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Esperei





Esperei...

Esperei...
Olhei lá longe nas colinas
Esperei, e esperei aquele primeiro rasgo de luz dentro da noite
que fizesse a luz ficar toda fora das noites

E ela chegou por fim
chegou por finalidade
chegou porque SIM desde o Princípio

porque a Luz chega e deixa tudo a descoberto
o Bom e Belo Criado em Sinfonia Perfeita
Sinfonia Perfeita e não acabada, a convidar à participação, como a uma dança

porque a Luz chega e deixa tudo a descoberto, à descoberta
o Bom e o Belo e o Horrível das Chagas que nos provocamos mutuamente.

Esperei, olhei lá longe nas colinas
aquele primeiro rasgo de luz
dentro da noite
dentro da morte
para te ver

Esperei aquele primeiro rasgo de luz
para ver o teu Corpo rasgado pela noite
todo ele martirizado, castigado, assassinado
Mas não quebrado...

Esperei para ver o teu Corpo,
no teu Silêncio mortal
eu que bebia as tuas palavras
e as saboreava, tantas vezes sem entender

Esperei para tocar o teu Corpo
e cobri-lo de perfume, de óleo precioso
porque é "precioso e de alto valor" o meu amor por ti, meu Corpo...
Quero guardar-te para sempre, para sempre

Chamámos-te Yeshu.
Queria tanto voltar a chamar-te,
Yeshu...
Posso?
Como? Se não te vejo
Deixei-te aqui frio, morto
sobre a pedra fria e morta e estéril
Calaram-te e Fecharam-te e Selaram-te assim
com a firme assassinante crença rude de calar as tuas palavras, a tua vida,
de calar o teu Corpo e as tuas gentes
querendo torná-las frios, mortos, estéreis...
Quiseram... querem...

Hoje eu sei
Sei que o Deus de Abrãao, de Itzaac e Jacob levantou-te daqui
O meu Deus, o nosso Deus, o teu Deus
E é por isso que não te vejo
porque te fizeste de todos os que te querem
és Corpo no Corpo dos que te amam e te querem

Porque sei isto?
Porque me chamaste pelo meu nome...
"Myriam!"
como só tu sabes chamar,
como quem me apanha toda, da cabeça aos pés
com toda a história que tenho e terei
"Myriam!..."
Como é saboroso ser chamada,
escutar o nosso nome, pela boca de quem amamos e seguimos!

Jerusalém, Jerusalém
Chão frio e morto, que mata...
é preciso deixar-te

É preciso deixar-te e voltar para a nossa Galileia

Em dia de Quinta-Feira Maior




Há semanas inesperadas, e há a Semana Maior de todas que, se se torna inesperada, transforma-se num desafio Maior...
- Procurar converter estes dias em algo bom de viver...
Às vezes é assim, experimentam-se na pele, as vivências de cegos, samaritanas e lázaros. E é coisa que nos pede para nos desmembrarmos, nos descolarmos, desbloquearmos...
... DESINSTALANDO-NOS

Sim, pode parecer estranho (eu estranho), que não sinta a mínima inclinação para receber o pão que trazem os ministros extraordinários da comunhão... um conforto para alguns doentes, talvez outra coisa qualquer para outros.
Não consigo, nem sequer pensar no assunto, sobretudo depois de ouvir aquele tom solene e grave com que fazem as orações preparadas do seus livritos. E admiro a disponibilidade e a dignidade que tanto querem dar a estes momentos...mas aquelas criaturas tornam-se esguias e mais altas do que são, por ficarem de pé, e tornam os pobres débeis prostrados em cadeirões ou camas, criaturas ainda mais pequeninas. E saem dali uns louvores e graças ao Senhor, sem gracinha nenhuma e ironicamente com aquela "melodia" de fundo dos concursos portugueses da TV. É a vida! dizem...

Tenho mesmo que me surpreender. Talvez devesse aceitar a boa vontade destas criaturas, poderiam ser Deus na figura de anjos consoladores, ou que trouxessem boas notícias... tal e qual como aqueles 3 estrangeiros comeram o pão feito pela Sara, depois de Abraão lhes ter lavado os pés, coisa tão comum naqueles desertos.

Se calhar era isso... seria preciso que se sentassem comigo, que nos lavássemos mutuamente os pés, com todo o significado que isso possa ter de acolhimento, dom, entrega...

Se calhar era preciso que partilhássemos o mesmo pano de tenda sobre as cabeças. Que, de repente, nos sentíssemos verdadeiramente todos peregrinos...

Tive ontem a Comunhão da Quinta-Feira Maior, sim.....o tal sinal da Ceia... E pude saborear essa Comunhão com todo o paladar que tenho e todo o sentido que possa ter. Chegou-me na forma de uma cavaca, que me foi estendida pelas mãos doces de uma menina de 12 anos que antes havia já dado uns passitos de dança, como uma liturgia toda de gente... E ao ver estendida das suas mãos aquela cavaca para mim, quase lhe respondi "Ámen".

Afinal de contas, aquela família sentou-se ali em volta do seu querido ente mais débil e entre sorrisos e conversas, abrem uma caixa e petiscam umas cavacas que partilham entre todos, "são caseirinhas, pode comer à vontade!"
E como se pode recusar o que caseirinho é de casa, o que é feito com mãos humanas, fruto da terra e do trabalho de uma mulher?
"AMÉN!"

Há sinais...


E porque há Sinais, tantos...
e porque vivemos deles e com eles...

"... porque nEle existe Misericórdia
   e       com Ele       Redenção abundante."

Amen