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1 - Um "passeio"...




Gostaria de iniciar aqui, desta vez, um “passeio” por um livro que é dos mais pequenos do Antigo Testamento… o Livro de Jonas…
Infelizmente é pouco conhecido mas, de entre tantos livros que o Antigo Testamento, tem uma mensagem tão forte que foi mencionado na Boa Notícia anunciada pelos evangelistas.

“Esta geração é uma geração perversa; pede um sinal, mas não lhe será dado sinal algum, a não ser o de Jonas. Pois, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim o será também o Filho do Homem para esta geração.” Lc 11, 29-30

No livro de Jonas lemos o desenrolar de uma história criada com algum humor, escrita no género literário chamado “midrash”, ou seja, partindo de um acontecimento ou tema ou situação é criada uma história, um conto, com o objectivo de ensinar ou evidenciar uma realidade de carácter mais profundo.

Ainda assim, este conto do livro de Jonas parece que salta de todos os esquemas normais, ao compará-lo com todos os outros livros do Antigo Testamento, porque se parece mais a uma sátira… por ter um carácter denunciador, fazendo rir de assuntos “sérios” e com pessoas “sérias” para falar de uma verdade importante.

Já iremos ver qual é a mensagem central deste livro…

E porque ele é mesmo pequeno, deixo-o por aqui para quem não conhece bem… e, para quem já o conhece, é sempre uma delícia reler e “ver” nele mais alguma coisa interessante…

Até já… e bom “passeio”!...



"A palavra do SENHOR foi dirigida a Jonas, filho de Amitai, nestes termos:
«Levanta-te, vai a Nínive, a grande cidade, e anuncia-lhe que a sua maldade subiu até à Minha presença.»
Jonas pôs-se a caminho, mas na direcção de Társis, fugindo da presença do SENHOR. Desceu a Jafa, onde encontrou um navio que partia para Társis; pagou a sua passagem e embarcou nele para ir com os outros passageiros a Társis, longe da presença do SENHOR.

Porém, o SENHOR fez vir sobre o mar um vento impetuoso, e levantou no mar uma tão grande tempestade que a embarcação ameaçava despedaçar-se.
Cheios de medo, os marinheiros puseram-se a invocar cada um o seu deus e deitaram ao mar toda a carga do navio para, assim, o aliviar.

Entretanto Jonas tinha descido ao porão do navio e, deitando-se ali, dormia profundamente. O capitão do navio foi ter com ele e disse-lhe:
«Dormes? Que fazes aqui? Levanta-te, invoca o teu Deus, a ver se porventura se lembra de nós e nos livra da morte.»
Em seguida disseram uns para os outros:
«Vinde e deitemos sortes, para sabermos quem é a causa deste mal.»
Lançaram sortes, e a sorte caiu sobre Jonas. Disseram-lhe então:
«Diz-nos porque nos aconteceu este mal. Qual é a tua profissão? Donde vens? Qual a tua terra e a que povo pertences?» Ele respondeu-lhes:
«Sou hebreu e adoro o SENHOR, Deus do céu, que fez os mares e a terra.» Então, aqueles homens ficaram possuídos de grande medo, e disseram-lhe:
«Porque fizeste isto?» Com efeito, compreenderam, ao ouvir a confissão de Jonas, que ele fugia do SENHOR. Disseram-lhe:
«Que te havemos de fazer para que o mar se nos acalme?» De facto, o mar estava cada vez mais embravecido. Ele respondeu-lhes:
«Pegai em mim e lançai-me ao mar, e o mar se acalmará, porque por minha causa é que vos sobreveio esta grande tempestade.»

Os homens remavam para ver se conseguiam aproximar-se de terra, mas em vão, porque o mar cada vez se embravecia mais contra eles. Então clamaram ao SENHOR, dizendo:
«SENHOR, não nos faças perecer por causa da vida deste homem, nem nos tornes responsáveis do sangue inocente, porque Tu, ó SENHOR, fizeste como foi do teu agrado.»
Depois pegaram em Jonas e lançaram-no ao mar; e a fúria do mar acalmou-se. Então, estes homens temeram o SENHOR; ofereceram um sacrifício ao SENHOR e fizeram-lhe votos.

O SENHOR fez com que ali aparecesse um grande peixe para engolir Jonas; e Jonas esteve três dias e três noites no ventre do peixe. Jonas fez esta oração ao SENHOR, seu Deus, do ventre do peixe, dizendo:

«Na minha aflição invoquei o SENHOR,
e Ele ouviu-me.
Clamei a ti do meio da morada dos mortos,
e Tu ouviste a minha voz.
Lançaste-me ao abismo, ao seio dos mares,
e as correntes das águas envolveram-me.
Todas as tuas vagas e todas as tuas ondas
passaram por cima de mim.
E eu já dizia:
'Fui rejeitado diante dos teus olhos.
Acaso me será dado ver ainda o teu santo templo?'
As águas me cercaram até ao pescoço,
o abismo envolveu-me,
as algas pegavam-se à minha cabeça;
desci até às raízes das montanhas,
até à terra cujos ferrolhos me prendem para sempre.
Mas Tu, SENHOR, meu Deus,
salvaste a minha alma do sepulcro.
Quando desfalecia a minha alma,
lembrei-me do SENHOR;
a minha oração chegou junto de ti,
até ao teu santo templo.
Os que se entregam a ídolos vãos
abandonam a sua fidelidade.
Eu, porém, oferecer-te-ei sacrifícios,
com cânticos de louvor
e cumprirei os votos que tiver feito,
pois do SENHOR vem a salvação.»

Então, o SENHOR ordenou ao peixe e este vomitou Jonas em terra firme.

A palavra do SENHOR foi dirigida pela segunda vez a Jonas, nestes termos:
«Levanta-te e vai a Nínive, à grande cidade e apregoa nela o que Eu te ordenar.»

Jonas levantou-se e foi a Nínive, segundo a ordem do SENHOR.
Nínive era uma cidade imensamente grande, e eram precisos três dias para a percorrer.
Jonas entrou na cidade e andou um dia inteiro a apregoar:
«Dentro de quarenta dias Nínive será destruída.» Os habitantes de Nínive acreditaram em Deus, ordenaram um jejum e vestiram-se de saco, do maior ao menor. A notícia chegou ao conhecimento do rei de Nínive; ele levantou-se do seu trono, tirou o seu manto, cobriu-se de saco e sentou-se sobre a cinza.

Em seguida, foi publicado na cidade, por ordem do rei e dos príncipes, este decreto:
«Os homens e os animais, os bois e as ovelhas não comam nada, não sejam levados a pastar nem bebam água. Os homens e animais cubram-se de roupas grosseiras, e clamem a Deus com força; converta-se cada um do seu mau caminho e da violência que há nas suas mãos. Quem sabe se Deus não se arrependerá e acalmará o ardor da sua ira, de modo que não pereçamos?»
Deus viu as suas obras, como se convertiam do seu mau caminho, e, arrependendo-se do mal que tinha resolvido fazer-lhes, não lho fez.

Jonas ficou profundamente aborrecido com isto e, muito irritado, dirigiu ao SENHOR esta oração:
«Ah! SENHOR! Porventura não era isto que eu dizia quando ainda estava na minha terra? Por isso é que, precavendo-me, quis fugir para Társis, porque sabia que és um Deus misericordioso e clemente, paciente, cheio de bondade e pronto a renunciar aos castigos. Agora, SENHOR, peço-Te que me mates, porque é melhor para mim a morte que a vida.» O SENHOR respondeu-lhe:
«Julgas que tens razão para te afligires assim?»

Jonas saiu da cidade e sentou-se a oriente da mesma.
Ali fez para si uma cabana e sentou-se à sua sombra, para ver o que ia acontecer na cidade. O SENHOR Deus fez crescer um rícino, que se levantou acima de Jonas, para fazer sombra à sua cabeça e o proteger do Sol. Jonas alegrou-se grandemente por aquele rícino.

Ao outro dia, porém, ao romper da manhã, enviou Deus um verme que roeu as raízes do rícino, e este secou. Quando o Sol se levantou, Deus fez soprar um vento quente do oriente, e o Sol dardejou os seus raios sobre a cabeça de Jonas, de forma que ele, desfalecido, desejou a morte e disse:
«Melhor é para mim morrer do que viver.» Então Deus disse a Jonas:
«Julgas tu que tens razão para te indignares por causa deste rícino?» Jonas respondeu:
«Sim, tenho razão para me indignar até desejar a morte.» Disse-lhe Deus:
«Sentes pena de um rícino que não te custou trabalho algum para o fazeres crescer, que nasceu numa noite, e numa noite pereceu! E não hei-de Eu compadecer-me da grande cidade de Nínive, onde há mais de cento e vinte mil pessoas, que não sabem distinguir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e um grande número de animais?»"

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