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Um Pórtico de Entrada...








É como um pórtico de entrada belíssimo, elaborado e tecido ao pormenor!

Um pórtico de entrada para algum acontecimento com o qual nunca acabamos de nos desconcertar, é um mergulho para um jeito de ver sem nada ver, um mergulho para um jeito de entender sem nada entender.
E sem nos darmos conta, no espaço de poucos minutos, celebramos as alegrias da festa com todos os encantos e desencantos que todas elas trazem neste pedaço de vida, e celebramos o silêncio de um inocente levado à morte pelos que, diante do povo, falam em nome do seu Deus.

A multidão sem nome, nem rosto que diz: “Hossana! Hossana!”… é a mesma que dirá depois: “Que ele morra! Que ele morra!” e ao mesmo tempo que imediatamente tudo isto me faz lembrar como são tão volúveis e inconstantes os Corações humanos, que tão depressa amam como depressa odeiam… apesar deste sentimento primeiro, todo este ambiente de Domingo de Ramos faz-me sentir que há no ar um ambiente sempre diferente de tudo o que conheço.
Este dia é, sem dúvida, o portal de entrada mais belo que se poderia viver para entrar na Semana mais bela de todas… a Semana Maior.

Todas as pequenas procissões que se fazem aqui e ali fazem lembrar a antiga festa dos Tabernáculos… das Tendas ou Festa das Colheitas… uma festa judia que dura sete dias. É uma festa divertida para as crianças porque, nesses dias da Celebração das Tendas, no espaço em que é possível, ao ar livre, os pais com as crianças constroem uma pequena cabana ou tenda para aí dormirem, para lembrar a fragilidade e simplicidade com que os antepassados viveram na dura caminhada pelo deserto desde o Egipto em direcção à terra prometida por Deus. Os judeus constroem a tenda em palha ou folhagem e não pode ser coberta, para se poder ver o céu.
É celebrada ao mesmo tempo como Festa das Colheitas porque coincide com o mês das colheitas em Israel. É então feito um ramo com quatro espécies de planta para simbolizar a colheita: um citríno, uma folha de palmeira, mirta e salgueiro.

As comunidades que foram reflectindo a vida do Mestre viram como Jesus, de alguma maneira, sempre palmilhou caminho em direcção a Jerusalém.
Desde o momento em que assumiu levar adiante a causa do Reino do Abba que teve a certeza que muitos iriam acolher as suas palavras como excelente Notícia e outros, com igual força, iriam desprezar as suas palavras como péssimas notícias.
Os primeiros sinais começaram lá, na Galileia dos pagãos… porque é bem verdade que “um profeta NUNCA é bem recebido na SUA terra”, em sua própria casa e pelos seus.

O Domingo de Ramos é sem dúvida a Festa das Colheitas, por excelência, porque o Fruto maduro, a Semente, o Filho da nossa Humanidade está pronto para ser lançado à terra… Está na hora e é preciso entrar…! Está na hora daquele que vem em nome do Deus-Todo-Amor montar de vez a sua “tenda”, a sua Vida plena, no meio de nós, dentro de nós.





Aquele que entra, ao som de aclamações, montado num jumentinho, lembra os solenes cortejos de conquistadores de impérios, levando adiante e atrás de si os despojos da guerra e os reis vencidos acorrentados… em douradas carruagens levadas por elegantes cavalos… “ali vai o que chamam de grande messias, montado num jumento”. “É um galileu, mais um campónio do norte a dar ares de messias.” “Nunca se sabe”… “É preciso vigiá-lo, não vá causar-nos alguma surpresa desagradável!”

A glória das folhas de palmeira e dos ramos de oliveira, serão as cinzas com as quais cobriremos a cabeça no ano seguinte, porque destas glórias nada nos resta entre as mãos.

É um pórtico de entrada belíssimo para uma Semana que deve ser séria e intensamente vivida por aqueles que se dizem discípulos de Jesus.
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(um abraço forte a quem me pediu esta reflexão)

2 comentários:

Anónimo disse...

Um abraço e muito obrigada!
Maria

Andante disse...

E continuamos a insistir para entrar pelo lado errado do pórtico...
obrigada.

beijos peregrinos