No tempo de Jesus, (tal como em todos os tempos) havia várias propostas para alguém se aproximar de Deus.
- Saduceus = Dedicavam-se ao culto e sacrifícios no Templo, e a obras da religião. Deste grupo faziam parte os Sacerdotes.
- Fariseus = Empenhavam-se em seguir e fazer seguir a Lei religiosa, cumprindo-a à letra.
- Essénios = Praticavam a ascese e embora se agrupassem longe das cidades procuravam a salvação individual.
- Zelotas = Procuravam fomentar a revolução pela violência e pela força, imaginavam que só assim era possível devolver o povo ao seu Deus, arrancando-o das garras do poder romano, pelo poder da espada.
Eram estas as autoridades “oficiais” dos assuntos de Deus.
Mas, como é que Jesus, depois de se ter encontrado com João Baptista, sentiu, actuou e se embrenhou na emergência do jeito de Deus já a actuar (o Reinado de Deus)?
Em nenhum momento escrito nos Evangelhos vemos Jesus sozinho, como quem procura a sua própria “salvação”.
Só o vemos sozinho em 2 situações:
- em momentos de oração
- em momentos de tentação
Ainda assim atrevo-me a não desligar os dois momentos porque sempre parecem ligados nos Evangelhos, como se os momentos de tentação que Jesus terá vivido em determinados momentos da sua vida ele terá sentido uma enorme necessidade de solidão para orar.
Orar como uma necessidade permanente de “re-ligação” ao seu Deus a quem chamava familiarmente de Papá, uma necessidade permanente de se descentrar de si próprio para se centrar no Seu Pai e, assim, centrar-se no Coração daqueles que eram os “predilectos” do seu Papá: os não-queridos, os não-amados, os desprezados, os desfavorecidos, os des…
Para isto era preciso renunciar a glórias e manifestações populares das multidões que naturalmente o exaltavam.
Para ficar do lado do pobre era preciso continuar a ser pobre, verdadeiramente, ainda que a “fama” da sua presença, das suas palavras, dos seus gestos, do seu sorriso, do seu abraço animasse os inúmeros desfavorecidos e se espalhasse por todos os povoados e aldeias e o quisessem fazer rei.
Não me admiraria que a multidão esperasse dele um verdadeiro Sacerdote com as mesmas lógicas do Templo mas pronto a interceder e a oferecer incenso e sacrifícios pelos mais frágeis e os “sem voz”
Não me admiraria que a multidão esperasse que ele se tornasse num fariseu influente, benevolente, e que com as mesmas lógicas da Lei, abolisse algumas delas mais ridículas e sem sentido e criasse outras que trouxessem mais justiça aos desfavorecidos.
Não me admiraria que a multidão o importunasse de tal maneira que ele tivesse vontade de fugir para longe e procurasse a sua salvação, a reflexão, a meditação e purificação para sempre longe do sufoco das multidões, numa comunidade sossegada como eram as essénias, no meio do deserto.
Não me admiraria que a multidão esperasse dele um líder político, ou um guerreiro carismático, motivando toda a multidão em massa a pegar numa arma e juntos, finalmente, acabar com todos aqueles que subjugam e escravizam o povo… como verdadeiros zelotas.
Não me admiraria que alguns líderes de cada um destes grupos religiosos do tempo, estivessem no meio da multidão, e vissem nele a vocação perfeita para aderir à sua causa e o tentassem “pescar” para o seu grupo.
A todos estes, Jesus de Nazaré os desiludiu porque não vemos Jesus a pactuar com as lógicas de nenhum Templo (Templo = “lugar” específico onde se afirma que Deus está presente). Diz que a Lei foi feita para o Homem e não o Homem para a Lei. E que o maior mandamento é o Amor, e sem abolir a Lei supera-a. Nunca fugiu da sua missão procurando uma salvação individual. Nunca pegou numa arma para fazer chegar o Reino de Deus pela força, nem permitiu que os seus discípulos o fizessem.
A primeira acção de Jesus naquele tempo que chamamos da sua vida pública foi formar uma Comunidade, formar uma família de irmãos. O objectivo era Caminhar, Viver, Aprender, Partilhar, Curar, Estar Atento e Anunciar juntos o que era isso do Reinado de Deus a chegar.
E porque este anúncio não era uma simples causa ou ideologia e implicava tomar partido por pessoas: Então, Jesus também condena e chama de hipócritas àqueles que praticam a injustiça ou alimentam lógicas de opressão.
Jesus defende, está do lado daqueles que ninguém defende, interessa-se por aqueles a quem ninguém interessa.
Jesus diz em voz alta que o jeito de Deus agir já chegou, que Deus já começou a defender o oprimido e o infeliz, já começou a fazer Justiça.
Não admira que Jesus fosse odiado por tantos “conformados” e tantos “confortavelmente instalados” daquele tempo.
Eu pergunto-me, hoje, que Evangelho/Boa Notícia do Jesus de Nazaré anunciamos e vivemos hoje para que tantas vezes Jesus não seja, hoje, tão incómodo e até odiado por tantos?
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