Este pregador recorda a lógica de Jesus, que rompe
todas as expectativas da chegada do Reino por caminho de messianismos
gloriosos.
- Estes três relatos (Sepulcro vazio/Emaús/aparição
dos discípulos) mostram também o espanto do discípulo, que fica atordoado,
incapaz de ver (e até de acreditar) no Senhor presente. O discípulo vê-se
obrigado a procurar sintonizar noutra onda.
Quem lê estes relatos espera que no sepulcro as
mulheres vejam, mas o que acontece é que elas acabam por escutar uma
“pregação”.
O autêntico discípulo não pode esperar aparições,
pois terá que lidar com desaparições (como no final de Emaús)
- Estes três relatos são algumas de entre outras
catequeses que formam o itinerário feito pelas primeiras comunidades para
assimilar o escândalo de contemplar o Senhor, ao mesmo tempo: na maior desonra
da cruz; mas que está sentado à direita do Pai, como Filho de Deus e Senhor da
História.
1º relato:
As mulheres diante do sepulcro vazio
“Não sabiam o que pensar de tudo aquilo, quando se
apresentaram diante delas dois homens com vestidos resplandecentes. Assustadas,
inclinaram o rosto por terra, mas eles disseram:
- Porque procuram no meio dos mortos o que está vivo?
Não está aqui, ressuscitou. Lembrem-se, como vos falou quando estava na
Galileia, dizendo: “É preciso que o Filho do homem seja entregue nas mãos dos
pecadores e seja crucificado, mas ao terceiro dia ressuscitará”.
E elas lembraram-se das suas palavras”
Estavam perplexas, não sabiam o que pensar. Esta
catequese quer deixar claro que o sepulcro vazio não provoca a fé. A fé é
despertada pelo anúncio do Mensageiro de Deus. Os olhos humanos do “mundo
velho”, por si mesmos, não podem testemunhar o “mundo novo” de Deus. A
experiência de Jesus como Homem Novo não a podem provocar os sentidos do nosso
corpo mortal; só a Força de Deus é capaz de nos colocar em sintonia com o Mundo
Novo.
O relato conta que as mulheres receberam o anúncio da
Boa Nova, não por “ver”, por verem o túmulo vazio, mas por “escutar” a
mensagem, e mais que isto, por se “recordarem/fazerem memória” das palavras de
Jesus.
Ainda que o testemunho de uma mulher naquele tempo e
cultura não valesse nada, elas não o puderam calar, tornando nas primeiras
pregadoras da Boa Notícia.
2º relato:
Emaús
“Naquele mesmo dia, iam dois deles para um povo chamado
Emaús, que fica a 11km de Jerusalém, e conversavam entre si sobre tudo o que
tinha acontecido”
É o regresso a casa. Da grande esperança à
desesperança. Desde a gloriosa subida a Jerusalém, ao virar costas à cidade da
cruz da vergonha, da ilusão.
Assim o Reino não é possível. Voltemos então ao mundo
pequeno e raquítico, seria ingenuidade pensar em grande, em mundos Novos... estes
discípulos ficam desiludidos com a comunidade e afastam-se de Jerusalém. Em
atitude de cobardia ou desistência, abandonam a zona de conflito. São gente
derrotada e profundamente desiludida. Tinham começado a dar a Jesus o papel de
pai todo poderoso, e isso era consolador e com gosto participavam da sua
grandeza. Mas o que aconteceu destruiu-lhes a segurança imatura, foi-lhes
arrancada a sua pequena fé infantil.
Mas Jesus continua a ser a presença de Deus peregrino
no meio do seu povo, solidário com as suas dúvida e dores e a fazer-se próximo.
E conversam com aquele estrangeiro que se põe a caminho com eles, que também
vem de Jerusalém. Os dois, tão interessados na própria frustração, só sabem
falar disso. E têm os dados todos como o demonstram ao estrangeiro, mas não
sabem o que fazer com toda essa informação. E repassam ponto por ponto as
grandes etapas da vida de Jesus. Sabem tudo, relatam os seus próprios
sentimentos, até fazem memória...
mas o problema é que “a ele não o viram”.
Obcecados pelo sonho imaginário de um Messias
poderoso, não podem acreditar nas mulheres nem reconhecer um Messias diferente
daquele que eles mesmos criaram à sua imagem e semelhança. Não podem admitir o
confronto, a debilidade e a morte. Não podem compreender um Messias desde a
cruz, desde o não poder.
E novamente o “era preciso” que já escutámos no sepulcro.
É o eco, nesta catequese de Lucas, da lenta e difícil conquista do enigma da
cruz pelas primeiras comunidades cristãs.
Voltando ao relato:
“Oh insensatos e lentos para acreditar em tudo o que
disseram os profetas! Era preciso que o Messias passasse por isto para ter
credibilidade, para que a sua vida tivesse peso!
E, começando por Moisés e continuando por todos os
profetas, explicou-lhes o que havia sido escrito sobre ele em todas as
escrituras”
Só quando o deixam falar, depois de tanto se queixarem,
é que começam a abrir-se ao mistério deste outro, se tornaram capazes de ouvir.
O messianismo de Jesus encarna a realidade débil da
história. Estes discípulos falavam de um messianismo judeu: nacionalista e
poderoso. Agora é hora de mudar para o messianismo de Jesus que é feito de
universalidade e debilidade.
E começa a arder-lhes o coração.
No fim do dia, o convidado à mesa, torna-se no senhor
da mesa, e ao partir e entregar o pão não se dá uma aparição, mas uma
desaparição. Os discípulos não o veem, mas sim reconhecem-no. Já não é
necessária a presença física: fica-lhes a entrega, a partilha feito memorial
entre discípulos.
A partir de agora entendem como não se trata de VER,
como nos dias da Galileia, mas de RECONHECER a presença de Jesus na entrega do
pão partido/partilhado e na releitura da Escritura, e RECONHECER a presença de
Jesus em todos os injustiçados e martirizados da História. Descobrem Jesus com
um rosto novo, o de Senhor de toda a História.
O que experimentaram fez deles testemunhas, e depois
de desandarem caminho para longe, voltam ao caminho para Jerusalém, porque não
conseguem guardar isto só para si.
3º relato:
Aparição aos discípulos
Mesmo no mundo fechado em que os discípulos se
encerraram, o Mundo Novo irrompe inesperado e imprevisível.
Jesus dá-lhes o SHALOM e mostra-lhes as mãos e os
pés. É um sobrevivente dos infernos do nosso mundo, um martirizado
publicamente. As suas feridas nunca desaparecerão porque são as feridas dos
torturados de todos os tempos. As de Jesus já não lhe causam dor, em vez disso
têm poder curador, não são fonte de ruptura. Podem curar porque nos dizem que
todos temos fracturas, que somos vulneráveis. As pessoas feridas e
reconciliadas, como o Senhor, são reconciliadoras, porque entendem as feridas
dos outros. É por isso que a cruz se tornará no agente do mundo reconciliado,
porque o Senhor pode dizer com toda a credibilidade que a cruz não é a última
palavra.
Mais uma vez, escutamos a mensagem:
“Eu disse-vos quando estava convosco: É preciso que
se cumpra tudo o que está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos
acerca de mim”.
E ajudou-os a entender as Escrituras...”
“É preciso”, não porque Deus quisesse, ou por uma
necessidade teológica. Mas uma necessidade histórica, por causa dos homens, da
sua condição pecadora. O discípulo deve compreender que, se alguém neste mundo
quer romper as dinâmicas da morte para oferecer uma alternativa de vida tal como
Deus a sonha, terá que pagar por isso. É como se lhes dissesse: “Não entendem
que era impossível libertar este mundo, dar-lhe valores alternativos do Reino,
sem que os poderes reagissem tratando de matar?”. É o “grão de trigo que há-de
morrer para dar vida”, e “quem quiser ganhar a vida, há-de perdê-la”
E agora entendem, ou vão aprendendo a entender este
“é preciso”, e que como Jesus, também eles hão-se ser ministério de
reconciliação.
Entendem também que a presença de Jesus, no meio
deles, não é questão de VER, mas de PRESENÇA, não de aparição, mas
des-aparição. Como podemos ler no relato mais adiante.
“Jesus levou-os para próximo de Betânia e, levantando
as suas mãos, abençoou-os. E enquanto os abençoava, separou-se deles e foi
levado para o céu. Eles, depois de se prostrarem diante dele, voltaram a
Jerusalém com grande alegria. E estavam sempre no Templo a louvar a
Deus.”
(Reflexão
baseada no capítulo 24 do Evangelho segundo S.Lucas
com
a ajuda do livro "Los últimos y los
primeiros días de Jesús, el Señor", de
Francesc Riera i Figueras,sj)
Deus de Jesus,
queremos ser e viver como habitantes da Tua Casa
onde se vive e se ama ao Teu jeito
Queremos conhecer sempre mais o teu Jesus
porque ele sabe bem como é ser filho em Tua Casa
tornaste-o vivo, entre nós
e por isso queremos dizer bem de Ti
Quero dizer bem de Ti
porque ao levantares Jesus da morte
o tornas misteriosamente presente
na minha vida, nos meus caminhos
vivo da Tua Vida,
sempre com um novo rosto.
Quero dizer bem de Ti
porque ao levantares Jesus da morte
me levantaste de todas as minhas mortes
Não apagaste nunca as feridas do teu Jesus
para que eu saiba sempre que as minhas interrogações e dores
não têm a última palavra
Ao levantares Jesus da morte
deste o teu NÃO definitivo ao mal que provoco ou do qual sou
vítima
Ao levantares Jesus da morte
Deste o teu SIM definitivo ao bem da minha partilha,
da minha alegria, da paz
e do perdão que dou gratuitos
Ao levantares Jesus da morte
obrigas-me a levantar-me
e obrigas-me a levantar outros das suas mortes
porque só és Bom
porque só me queres Feliz
porque só me queres com outros, irmãos,
na Tua Casa de Pai e Mãe
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