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4... do povoado dos pescadores... a Jerusalém...


Parece-me que há palavras que fazem ainda eco, dentro de mim… tal era a força com que ele as afirmava:
“Acredito e vivo o que vos falei… Acredito e vivo tudo o que vos falo… jamais o negarei!”

Naqueles dias, nunca ele me pareceu tão só… parecia ter-se abandonado ao que dizia o próprio Coração… O seu próprio Coração era como um estranho, que falava uma linguagem estranha, acho que até o próprio Yeshuah se estranhava consigo próprio nestes seus pensamentos.
Alguns do grupo quase elaboravam um plano, era como um sonho… a festa da Páscoa do nosso povo era o momento perfeito, o próprio Yeshuah concordava que a festa da Páscoa era uma oportunidade importante… mas sempre me pareceu que não falavam do mesmo.
A um sinal… bastava um sinal qualquer… e as multidões seguiriam atrás dele como sempre fizeram, primeiro a casa do governador romano, depois apoderar-se-iam do templo … e em breve, toda a nossa terra voltaria a ser nossa, o nosso Deus estaria do nosso lado, o Yeshuah garantiria isso, o novo Moisés a favor do nosso povo!... Era o plano perfeito… Nada os poderia deter diante das multidões contagiadas pela paixão da liberdade…
… ainda que fosse a custo do preço da espada!...

E Yeshuah sozinho… porque mal começavam com estas conversas, eu via no olhar dele o quanto se ensombrava, parecia que a dúvida quase entrava nele… não sei se a dúvida terá mesmo chegado a entrar nele pois, se entrou, nunca agiu de acordo com isso. E afastava-se deles, ía para o monte… ele sossegava depois de estar algum tempo por lá, sozinho…

A Páscoa aproximava-se… e nada se via no Yeshuah, de decisões, planos…

Quase li o pensamento de um deles… esse pensou que, se o Yeshuah se visse numa situação mais extrema, do absurdo de finalmente os chefes “da religião” aliado àquele povo que nos oprime, o prendessem como tantas vezes o ameaçaram… O Yeshuah rebentaria as cordas com que lhe atassem as mãos, como Sansão cheio de força poderosa… haveria dentro dele a força necessária para iniciar a rebelião e libertar o nosso povo de toda a escravidão… os do grupo, finalmente ganhariam garra, vendo o Rabi ser preso… e, para iniciar este empurrão, esse achou até que poderia ganhar algum bom dinheiro com isso. Era sempre isso que esse tinha no pensamento, o dinheiro, e todas as formas de conseguir mais um pouco, ainda que à custa das espadas dos outros…
pensei ler este pensamento desse um deles, sim… mas não posso afirmá-lo… pois nada sei, sei apenas que o beijou como que a despedir-se, talvez fosse um sinal combinado… Só o vi tremer gelado a beijá-lo, ele não conseguia olhar nos olhos do Yeshuah.
pensaria… "Que raio de profeta é este, afinal, que não reage?… Ele que tem tudo nas mãos, que fraco profeta é este?"

O Rabi conhecia-os tão bem… tão bem… já na ceia, antes de tudo isto, ele se apercebera de tudo, eu vi… eu vi…
foi uma ceia alegre e triste, parecia uma festa de despedida…
todas as vezes que ceavam, eram sempre momento de alegria… mas esta era diferente.
Inclinou-se diante de cada um deles, fez-se escravo, no chão tirou-lhes as sandálias.
O escravo Yeshuah lavou-lhes os pés da poeira dos caminhos…
“Se eu fiz isto, e chamam-me Rabi, chamam-me mestre, muito mais o terão que fazer os que me seguem… muito mais…”
Este “escravo” que lhes lavara os pés, sentou-se à mesa com eles…

Rabi…
Rabi…
O meu Coração chora…
Rabi que te tornaste o Amor meu…
Amor meu, Amor meu, que fizeram ao teu rosto?
Amor meu, Amor meu, que fizeram ao peito onde tantas vezes me reclinei a escutar-te?
Amor meu, Amor meu, porque expuseram toda a tua nudez diante de quem passava?
Amor meu… porque permitiste?

“Acredito e vivo tudo o que falei
Acredito e vivo tudo o que falo
Fizeram de tudo para que eu negasse as minhas palavras
Fizeram de tudo para que eu negasse o meu olhar
Fizeram de tudo para que eu negasse o meu sorriso, a minha alegria
Fizeram de tudo para que eu negasse o meu toque
Fizeram de tudo para que eu negasse o Reino do Abbá, no qual acredito, que já está aqui
Fizeram de tudo para que eu negasse o Amor

Ameaçaram-me de morte caso eu não o negasse
EU ESCOLHO A VERDADE
ELES ESCOLHERAM A MORTE
Não existe dentro de mim escapatória possível… escolho a Verdade do Amor!...

Fizeram do culto do deus-falso, criado por eles… um meio hipócrita de proveito próprio… mil negócios, de mil maneiras, porque o Ventre é o seu centro e não o Coração…
Têm as mãos cheias… não suporto os que têm as mãos cheias… se estão cheias é porque não sabem partilhar…

Olhem para as minhas mãos… estão cheias de pão…
… a minha vida é este pão que parto e reparto para todos
A minha Vida toda a parto e reparto para todos, em abundância!
Olhem para o pão que têm nas mãos
… é pão do meu pão… é vida da minha vida
… é a vossa vida, da minha que é preciso que partam e repartam

Olhem para este vinho…
… a alegria da minha vida é assim este vinho saboroso que alegra
que dou a beber sem reservar nada para mim
A minha Alegria Viva toda a ofereço, em abundância!
Sou assim, homem inteiro, Vida plena para todos os que caminharem comigo
Quem bebe este Vinho da Alegria da Vida no Reino do Pai, é comigo também Vinho da Alegria… dessa mesma Alegria que viveremos todos juntos na Casa do Pai, que está próxima, que se pode saborear e viver um pouco aqui e agora… e totalmente, depois…

Partam e repartam a Vida que são… a Vida que são comigo!...
Façam este gesto, este sinal, para que nunca o esqueçam!...
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1 comentário:

joaquim disse...

Santa Páscoa, amigo Anawîm, para ti, todos os teus e todos aqueles que caminham contigo.

Abraço amigo em Cristo nossa esperança