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5... A mensagem do baptista cativa Yeshuah...



O que marcou tão fortemente a vida de Yeshuah, a ponto de tomar a decisão ou assumir a consequência tão séria de se desvincular do seu grupo familiar, de ele mesmo não formar também uma família, não se casando?
Como deixou ele até o ofício de artesão aprendido com o seu pai José, afastou-se da sua mãe e dos seus irmãos, afastou-se de Nazaré onde nasceu e cresceu, onde começou a aprender a ser pessoa?

Talvez tenha sido numa dessas saídas da povoação, em busca de trabalho que se terá cruzado ou terá ouvido falar de alguém cuja vida o deixou fascinado. Foi João, conhecido como “o Baptista”. Yeshuah nunca tinha conhecido mensagem tão cativante como a deste profeta do deserto.
Quem era este João Baptista cuja vida fez Yeshuah dizer mais tarde que tinha sido mais que um profeta, era o maior entre os filhos de mulher?

João era de uma família sacerdotal rural, seria de esperar que seguisse o caminho de seu pai no serviço e culto no templo de Jerusalém. Não segue nenhum mestre, abandona a terra sagrada de Israel e toma rumo em direcção ao deserto para fazer ouvir a sua mensagem.
João denuncia a crise do seu povo: o pecado e a rebeldia de Israel.
Aponta corajosamente o facto de que o povo eleito chegou ao seu fracasso total, não realizando o projecto de Deus.
Denuncia o próprio templo já corrompido também, e que por isso de nada servem nele os sacrifícios de expiação pelo pecado.
João sente que é urgente passar por um novo rito, um novo sinal de purificação total, não ligado ao culto do templo.
João anuncia a necessidade de voltar ao deserto, procurar a conversão, o arrependimento e o perdão para um início, um novo começo de uma eleição e uma aliança nova para este povo fracassado.

Em Yeshuah este jeito de ver as coisas causa um fortíssimo impacto. Ele está dentro da vida de todos os dias das gentes mais humildes do povo de que faz parte. Encara João como um homem audaz que coloca Deus no centro e no horizonte de toda a busca de salvação. Tudo fica relativizado e perde importância… o templo, os sacrifícios, as interpretações da Lei, o orgulho de ser pertença de um povo eleito… nada disto está a salvar o povo do sofrimento e desigualdades sociais que vive. Há uma coisa urgente e decisiva a fazer: converter-se a Deus e acolher o seu perdão.

João leva tão a sério o que quer anunciar, que é no deserto, escolhido cuidadosamente, que proclama a sua mensagem e exerce o sinal que grava na memória e no Coração do povo a mudança, a conversão, a preparação de um caminho novo que irá começar: a imersão nas águas correntes e abundantes do rio Jordão, que é também local de passagem de uma importante via comercial de Jerusalém para as regiões do Jordão, em frente a Jericó, lugar por onde, segundo a tradição, os antepassados do seu povo teriam entrado pela primeira vez naquela terra prometida por Deus.
João torna-se então no novo guia que conduz Israel, liberto da escravidão do Egipto, pelo deserto e o introduz na terra da promessa.
A água é o sinal perfeito que marca esta renovação… lava, purifica, refresca e dá vida.
Os banhos são um ritual muito comum daquele tempo mas, usam-se para isso tanques ou piscinas em redor do templo de Jerusalém, ou no mosteiro de Qumrãm, lugar onde praticavam essas purificações várias vezes, durante o dia, e em que cada um se lavava a si próprio.

João parece ser o primeiro a atribuir a si mesmo a autoridade de praticar este rito de purificação numa outra pessoa. Então o povo começa a chamá-lo de “o baptista”, e fala do seu rito como sendo “o baptismo de João”.
Ser baptizado por João nas águas correntes do Jordão é acolher e aderir a sua mensagem e meter-se dentro desta renovação de Israel.
O facto de ser uma imersão na água do rio, feita por João, torna-o assim um mediador de Deus que oferece o dom da purificação a Israel.

Assim se começa a formar o novo povo da Aliança, não com um rito de iniciação para formar mais um grupo a acrescentar aos já existentes grupos religiosos… em vez disso, quem foi mergulhado por João na água, uma única vez, converte e compromete toda a vida, volta para casa para viver de modo renovado, preparado para receber a chegada da salvação de Deus.

João actua à margem do templo, e isso escandaliza os sacerdotes e todos os religiosos de Jerusalém… estes não aderem ao seu anúncio.
Quem acolhe a mensagem do baptista são as gentes das aldeias, as prostitutas, os cobradores de impostos e todas as pessoas de conduta duvidosa, todos aqueles a quem os religiosos apontavam o dedo como impuros e à margem da Lei.

João sentia ter uma missão que não era definitiva. Ele sentia a urgência de preparar o povo para a chegada da salvação de Deus. Ele esperava, provavelmente, um homem com uma missão mais importante que a dele, um homem a quem ele não seria digno de desatar a correia das sandálias. João não sabia bem quem seria, mas haveria de ser o mediador definitivo de Deus.

Em algum momento Yeshuah se aproximou dele, fascinado por esta mensagem viva de uma renovação, e aderiu a este sonho, fazendo-se mergulhar nele, por João.
Junto com alguns discípulos e colaboradores, Yeshuah terá permanecido no deserto com o baptista, aprofundando a sua mensagem. Este é o momento que provoca uma viragem completa na vida de Yeshuah. Foi aqui que conheceu os irmãos André e Simão e um amigo deles, Filipe, que eram da povoação de Betsaida.

João Baptista coloca a sua própria vida em perigo ao denunciar a vida desregrada de Herodes, ainda que este o temesse pelas multidões que cativava, e talvez até o admirasse pela sua ousadia e verdade. Ainda assim Herodes o prendeu e mais tarde mandou executá-lo com medo que ele fomentasse alguma rebelião.

O desaparecimento de João causa um grande impacto entre o povo.
Yeshuah reage de maneira surpreendente. Não deixando o fervor de esperança que animava João, radicaliza essa mensagem até extremos que não se poderiam imaginar.
Dá à perspectiva gerada por João um horizonte novo.
Já não vive um tempo de preparação, mas uma nova era.
Já não é tempo de penitência, mas sim de acolher o Deus da Vida.
Yeshuah oferece a todos, gratuitamente, aos que haviam mergulhado nas águas e também aos que não tinham mergulhado nas águas do Jordão, uma notícia boa… excelente.
Proclama, numa nova linguagem, longe da austeridade do deserto, num estilo de vida festivo: O Reino de Deus já chegou, está próximo, está aqui!

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