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Meninos dourados

Amo-te, Yeshu…
Amo-te, Yeshu nosso…

O Inverno chega depois do Outono,
e enquanto as ruas se enchem de gente sem nome
avidamente à procura das melhores prendas de Natal para oferecer,
nós colocamos-te lá, outra vez, nas palhinhas,
Menino inocente, pobrezinho… inofensivo,
que assim não compromete a vida,
nem nos converte o Coração
e ao olhá-lo, podemos cantar tantos cantos de Natal,
e alegrar-nos porque nasceu o Salvador do mundo
mas não sabemos alegrar-nos nem ocuparmo-nos daqueles que nos são mais próximos.

E a vida nasce fora de nós, acontece, e morre porque quer nascer de novo,
no Coração dos que amam
e dos que não amam tanto…

Dizem-se frases bonitas…
“Natal é quando um Homem quiser”
“Natal é tempo de Paz e Reconciliação”



O Natal traz-nos o Pai Natal
e a Páscoa o coelhinho e os ovos…
…e se eu fosse um deus qualquer,
talvez quisesse esquecer esta Humanidade que fomos complicando,
e começar tudo de novo…
Ai! És tão Deus, ó Abba do nosso Yeshu!
És tão Deus maior que nós
que resolves não começar tudo de novo com um Dilúvio qualquer.
És tão Deus que olhas para nós assim,
e nos amas assim mesmo, apaixonadamente
e mais esperas Tu, por nós, como um Amante espera pela Amada.

Continuas à espera que tiremos todos os laços que fomos colocando
à nossa volta, para nos protegermos do outro que tantas vezes olhamos como ameaça a não sei o quê, mas não como irmãos, infelizmente…
Continuas à espera que nos desembrulhemos do papel bonito, só por fora, que afinal por dentro esconde as nossas misérias que teimamos em corrigir e vamos adiando,
Continuas à esperas que quebremos os ovos de chocolate que nos fazem adiar o nosso querer ser mais… que encarnemos por fim as grandes teorias a que aspiramos, para que deixem de ser teorias e passem a ser verdadeiramente no chão que pisamos todos os dias…
e, sobretudo, que descolemos a tinta dourada dos Meninos que nunca crescem
nem se fazem Homem,
para que finalmente descubramos o homem Yeshu, o nosso Yeshu.

O nosso Yeshu que eu sempre vejo como a imensa linha do horizonte
que se vê tão bem no mar, em dias sem névoas,
essa linha que une o Céu e a Terra…
une o que os meus olhos não alcançam
àquilo que vivo, que choro, e que me faz sorrir.

Amo o nosso Yeshu
e amo e admiro tanto aqueles que o tornam verdadeiramente presente,
quase visível, aqui.
Amo tanto o nosso Yeshu
Amo-o tanto porque ele me une a Ti, Abba…
Amo-o tanto porque o Yeshu é um homem que viveu o que falava,
sorria com a esperança que tinha,
comungava com o sofrimento dos desconsolados,
vivia em profunda comunhão com os que com ele permaneciam
e se sentavam à mesa com ele,
nunca ninguém agarrou verdadeiramente a vida como ele,
a nada se esquivou desta Humanidade de que ele é feito também.
Parece tolice, mas apetece-me mesmo dizer que…
… o Yeshu é o homem mais vivo que me parece sempre que começo a conhecer.

Agradeço-Te, Abba nosso, por esperares por nós…

6 comentários:

Anónimo disse...

Simplesmente bonito e tão, tão simples. Como é fácil dizer muito em palavras tão simples. E sem as confusões das prendas com que quiseram trocar o verdadeiro NATAL (...) dos barulhos com que pensam fazer-se ouvir(...). Estar disponivel par VIR TER CONNOSCO quando nada ou pouco fazemos para o merecermos...É bom ler e reler...
Muito bonito e profundo. Porque é que se confunde NATAL com tudo o que nada tem a ver com o NATAL?
Um obrigado Anawim
JMAS

Anónimo disse...

Gostei tanto desta tua meditação!
Como agradecimento ofereço-te um poema lindo também, que nós já usámos numa noite de Natal, como oração, à mesa :
KYRIE
"Em nome dos que choram,
dos que sofrem,
dos que acendem na noite o facho da revolta
e que de noite morrem,
com a Esperança nos olhos e arames em volta.
Em nome dos que sonham com palavras
de Amor e Paz que nunca foram ditas,
Em nome dos que rezam em silêncio
e falam em silêncio
e estendem em silêncio as duas mãos aflitas.
Em nome dos que pedem em segredo
a esmola que os humilha
e os destrói
e devoram as lágrimas e o medo
quando a fome lhes dói.
Em nome dos que dormem ao relento
numa cama de chuva com lençóis de vento,
o sono da miséria, terrível e profundo.
Em nome dos teus filhos que esqueceste,
Filho de Deus que nunca mais nasceste,
Volta outra vez ao mundo!"

Faltava a José Carlos Ary dos Santos a certeza de que nós temos de que não somos filhos esquecidos, mas filhos bem amados e olhados.E também que é o esquecimento dos homens que deixa outros homens viver no des-amor.
Um abraço. Glória

Anónimo disse...

tantos laços..tantos laços que apertam embrulhos que escondem os interiores em todos nós...!
Quando virá o verdadeiro Natal...!

Anawîm disse...

JMAS...
Agradeço-te também eu, o teu olhar encantado com a vida, vivo na vida.
Um abraço grande para ti, desembrulhado


Glória...
Oh Glória... que delícia!...
De facto, José Ary dos Santos, neste belíssimo poema, é o eco de tantos rostos na noite de Natal... São tantos, nesta Noite, os que de Coração ferido mais lembram a injustiça e a dor tantas vezes sem-sentido.
Que felizes somos, Glória... que felizes somos! Tens razão, temos o privilégio de saber a resposta final da dor e do sem-sentido.
Temos o privilégio de saber que é possível criar laços, ecos diferentes que dignifiquem a pessoa, que é possível sermos Família de Deus-Amor já aqui e agora.
Agradeço-te muito por ti, e pelas tuas partilhas sempre tão ricas e oportunas.
Um abraço muito grande para ti.

peregrino...
também eu me pergunto o mesmo quando olho alguns Corações...
Acredito que Ele vem sempre, e é sempre abraçado por aqueles que O esperam de braços abertos, sem defesas.
Um abraço para ti

Anónimo disse...

Que palavras tão cheias de sentido e verdade Anawim...!

O natal que eu vivia, perdeu o encanto...só o vivia na ilusão dos enfeitos e prendas e pouco mais do que isso.

Sinto-me tão previligiada,mas tão previligiada...por finalmente sentir que os olhos do meu coração conseguem ver mais longe a VERDADEIRA beleza que é o natal!!!

Um grande abraço!

Inês disse...

Já não me lembro de ler uma coisa tão bonita.

Muito obrigada.