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|3| Porque te amamos e queremos dizer-te, Jesus, chamamos-te FILHO DE DEUS



Se agora eu perguntasse:
“Se Jesus é O Filho de Deus, então concluímos que…?”




Então a primeira resposta que nos poderia surgir seria:
“Se Jesus é O Filho de Deus, então Jesus é Deus.”

MAS…

Mas a intenção primeira daqueles que atribuíram a Jesus esta expressão, este nome, não era exactamente e só esta resposta, mas sim:
“Se Jesus é O Filho de Deus,
então Deus é o Pai de Jesus!”
Uma resposta, um jeito de pensar e falar de Jesus bastante diferente.

Dizer que Jesus é O Filho de Deus é muito mais do que lhe atribuir um título de dignidade máxima…
Dizer que Jesus é O Filho de Deus é revelar uma relação entre duas pessoas. Uma relação absolutamente única que Jesus foi constituindo com Deus, enquanto O acolhia também de Coração totalmente aberto e totalmente disponível a tudo o que intuía de Deus e da lógica da Família deste Deus.
Dizer que Jesus é O Filho de Deus é proclamar que este homem não é um homem vulgar, e também não é um homem extraordinário… é outra coisa…
Dizer que Jesus é O Filho de Deus é afirmar que hoje já não se pode falar de Jesus sem falar no Reino/Família de Deus e no Rei deste Reino… tal como também já não se pode falar de Deus sem dizer quem é o Filho d’Ele. Tal como um filho é “a cara chapada” do pai… Jesus é todo Filho, é a cara do Pai-Deus. Jesus é o rosto de Deus!

Tendo em conta a cultura da época, dizer que Jesus é O Filho de Deus é um escândalo para os judeus porque estes, tendo fé num só Deus, não conseguiam concebê-l’O como Família de Pessoas. Um judeu fiel não acredita que Deus possa gerar ou atribuir características da Sua própria divindade a seres humanos…
… daí o escândalo, no judaísmo, a blasfémia máxima, e que foi a causa de condenação à morte de Jesus esta afirmação da relação Pai-Filho em Jesus com o seu Deus.

Paulo, em determinada altura vê a Comunidade dos discípulos de Jesus em Corinto com discussões e divisões, porque uns gostavam mais da pregação deste, outros gostavam mais da pregação de outro, porque este sabia mais, porque o outro tinha mais jeito para o anúncio, porque o outro era mais legítimo… Paulo aborreceu-se a valer com isto e escreve-lhes:
“Enquanto os judeus pedem sinais e os gregos andam em busca da sabedoria, nós pregamos um Messias crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios.
Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é poder e sabedoria de Deus.
Portanto, o que é tido como loucura de Deus, é mais sábio que os homens, e o que é tido como fraqueza de Deus, é mais forte que os homens (…)
… o que há de louco no mundo é que Deus escolheu para confundir os sábios, e o que há de fraco no mundo é que Deus escolheu para confundir o que é forte.”
1Cor1,22-24.27

Os judeus perdem-se a olham para o céu, os gregos perdem-se a olhar para a sabedoria que é tão efémera e volúvel como água entre os dedos… mas a Família de Deus é outra coisa… é outra coisa… o anúncio desconcertante é sempre: “O primeiro a ser levantado da morte, o que foi erguido da morte por Deus e por isso está vivo é o crucificado!”

Este é o anúncio absolutamente louco, sem lógica nenhuma para a cultura grega.
Nestes tempos das primeiras comunidades de discípulos de Jesus, os gregos que acreditavam em muitos deuses, acreditavam também na existência de “filhos de deuses”… bastava ser uma pessoa com capacidades fora do comum, ou ser rei e poderia ser considerada filho de um deus. Era uma expressão bastante comum na época.
Estes filhos de deuses recebiam deles os seus poderes divinos, tornam-se assim pessoas divinas também.
Ora, um homem como Jesus certamente humanamente extraordinário até poderia ser considerado pelos gregos como um “filho de um deus”, mas o que nunca encaixaria, o que nunca faria sentido era existir o facto vergonhoso, desonroso de uma condenação à morte… e por crucifixão.
Infelizmente, neste aspecto, herdámos muito desta maneira de pensar, porque na mentalidade grega seria um absurdo um filho de deuses sofrer e morrer desta maneira uma vez que lhe tinham sido dados poderes sobrenaturais/divinos.
Jesus, O Filho de Deus, é então uma loucura para os gregos, romanos, egípcios, etc…

Por mais que até soe estranho a alguns de nós isto tem que ser mesmo verdade.
Porque a Jesus, O Filho de Deus, a tortura e o assassínio doeram-lhe mesmo, ele não poderia estar a “fazer de conta” que estava a sofrer (desculpem as expressões).
A humanidade de Jesus é autêntica, nunca é aparente, e é inconcebível olhar para Jesus e dizer que ele é uma parte disto e uma parte daquilo, inteiramente isto e inteiramente aquilo, sem mais, porque estaria a ser desonesto connosco, e seria um bocado extraterrestre (que é o nome que damos a todas as criaturas que não são totalmente terrenas) (e desculpem outra vez a expressão).
Jesus é plenamente humano, é o primeiro a ser com absoluta verdade quem é… pessoa humana… por isso pode ser gerado na Família de Deus, porque é como Deus é.
Deus é absolutamente quem é em plenitude máxima, algo que nunca acabamos de descobrir… um Deus surpreendentemente que nunca mais acaba de Se revelar e de Se dar, mas que é absolutamente quem é.

Todos somos Filhos e Filhas de Deus… mas Jesus é O Filho de Deus, que já faz parte da Família de Deus enquanto nós, unidos ao Filho, formamos Corpo com ele, já fazemos parte da Família mas ainda estamos a caminho de ser plenamente o que somos… um só com o Filho da Família/Reino de Deus.

É um pouco desta linguagem que surge a elaboração dos relatos da infância de Jesus surgidos das primeiras comunidades de discípulos que proclamavam Jesus como Filho de Deus, o Primeiro de nós a nascer na Família/Reino de Deus. Fica mais clara a nossa leitura dos evangelhos se assumirmos desde o início da leitura que ali estão a falar de Jesus ressuscitado, desde a primeira página.

A próxima partilha será sobre o nome de Servo de Deus, Sofredor…
… Cordeiro de Deus.

Termino com a frase de Jon Sobrino que já coloquei por aqui há tempos.

“Depois da ressurreição de Jesus,
Deus já não actua sem Jesus,
Deus já não pode ser pensado sem Jesus,
Deus não é sem Jesus,
Jesus pertence à realidade de Deus.”


Até já.


1 comentário:

carméli disse...

Fico sem comentario diante de sua iluminada partilha.Consigo apenas agradecer
por suas inspirações e sabedoria .Sensibiliza-me profundamente.
bjnhs.