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|4| Porque te amamos e queremos dizer-te, Jesus, chamamos-te SERVO DE DEUS



“Eis o meu servo, que Eu amparo, o Meu eleito, que Eu preferi. Fiz repousar sobre ele o Meu espírito...”
Is 42,1

“Uma vez baptizado, Jesus saiu da água e eis que se rasgaram os céus, e viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e vir sobre Ele. E uma voz vinda do Céu dizia: «Este é o Meu Filho muito amado, em quem Me alegro.»”
Mt 3,17

É bem evidente nestas passagens como estavam unidas as expressões de Filho Amado de Deus, Servo e Eleito… o preferido, o escolhido para fazer repousar sobre ele o Seu próprio Espírito.
Este modo de ver Jesus como “Servo” é algo que talvez nos desconcerte mas é característica muito presente nas primeiras comunidades de discípulos de Jesus.

“… o Deus dos nossos pais, glorificou o seu servo Jesus, que vós entregastes e negastes na presença de Pilatos…”
Act 3,13
“… Foi primeiramente para vós que Deus suscitou o seu Servo e o enviou para vos abençoar e para se afastar cada um de vós das suas más acções”
Act 3,16
“… concede aos teus servos poderem anunciar a tua palavra com todo o desassombro, estendendo a tua mão para se operarem curas, milagres e prodígios, em nome do teu Santo Servo Jesus…”
Act 4,29-30

No entanto foi desaparecendo este jeito de dizer Jesus porque é sempre difícil a tensão existente entre este homem que, sendo filho não poderia ser servo, ou se era servo jamais poderia ser filho.
Encontrar no homem Jesus a coexistência da dignidade de Filho e o sofrimento de um Servo era muito difícil de conceber. Há sempre a tendência inconsciente para apagar a memória da dimensão do sofrimento e morte de quem já foi exaltado.

Mas hoje, como em todos os tempos, chamar Jesus de “Servo de Deus” é deixá-lo entrar e participar no mundo de todos aqueles que sofrem hoje, todos os que de alguma maneira hoje são os “crucificados”. Estes têm Alguém sobre quem podem repousar o olhar… um crucificado Ressuscitado, erguido do “chão” pelo próprio Deus.

E em que consiste este ser servo, cordeiro pronto para o matadouro, vítima, segundo o Novo Testamento?
Significa uma Eleição, uma Missão e um Destino.

O texto de maior importância que refere tudo isto é um hino que segundo dizem é mesmo anterior a Paulo.
Deixo-o aqui numa tradução livre:

“Cristo Jesus, que vivia como imagem de Deus,
não se preocupou em ser considerado como igual a Deus;
mas esvaziou-se a si mesmo,
tomando a condição de servo.
Tornando-se semelhante aos seres humanos
e visto como ser humano,
humilhou-se a si próprio,
fazendo-se obediente até à morte
e morte de cruz.

Por isso também Deus o exaltou acima de tudo
e lhe concedeu o nome acima de todo o nome
para que no nome de Jesus,
todos o joelho se dobre,
os dos seres que estão no céu, na terra e debaixo da terra
e toda a língua confesse que é Senhor, Jesus Cristo,
para glória de Deus Pai.”

Fil 2, 6-11

É belíssimo este hino que fala de Jesus como o Messias esperado que é de condição divina, não de forma filosófica mas pelo extraordinário acolhimento do que Deus faz actuar nele, manifestando em si próprio, de maneira plena, a dimensão divina do ser humano.
Jesus podia ter andado a “dar ares” de divino, mas decidiu não o fazer. Isto aparece-nos bastante claro nos relatos das tentações.

Enquanto nós fomos criados À imagem e semelhança de Deus,
Jesus É a imagem de Deus…
… mas “despe-se” desta condição extraordinária e adopta outra condição, a de escravo.
Jesus acolhe a condição mais frágil que pode existir no ser humano, e é nisto que é semelhante a assumir uma “carne pecadora” (Rom 8,3) pois sabemos como o pecado é o que mais anula o ser humano e o rosto de Deus no ser humano.

O sofrimento de Jesus “apanha”, atrai a si, assim, todos os sofredores, vítimas de qualquer sofrimento de todos os tempos com autoridade para os poder resgatar, salvar, abraçar na Família/Reino de Deus.

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