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Ainda me lembro de, nos tempos de escola, ter aprendido como a linguagem verbal é um dos mais importantes veículos da comunicação entre pessoas.
É bem verdade que, sem nos apercebermos muito bem disso nós, seres humanos, evoluímos sempre em torno das palavras que se dizem, escrevem, se materializam em mil coisas que fazemos a partir delas.
Tanta Cultura, tanta Sabedoria, tanta Reflexão, tantos Estudos transmitidos através de gerações e gerações… até aquele simples folheto de instruções tão útil (quase sempre na nossa língua também, eheh) que consultamos quando chega a hora de montar aquele objecto que nos chega às mãos desmontado, ou aquela máquina que é preciso pôr a funcionar, sem aquelas preciosas instruções perderíamos muito mais tempo.
Parece que tudo o que fazemos, desde que nos levantamos até que o dia termina está embrulhado em palavras.
Existimos relacionando-nos uns com os outros, em permanente comunicação, e quase sempre, quer seja no emprego nas funções que exercemos, quer seja expressando com os nossos mais íntimos aquilo que vamos sentimos, usamos tantas vezes as palavras para o concretizar.
As palavras metem-se na nossa vida, às vezes com tanta profundidade que não é estranho ouvir:
“O que disseste magoou-me!”
“A notícia que me deram arrasou comigo”
“Aquele boato que espalharam sobre mim quase destruiu a minha carreira profissional”
São palavras que nos “destroem”, que fazem desabar o nosso mundo.
Ou as palavras que nos levantam de novo:
“As palavras que me escreveste naquele dia deram-me tanto ânimo, parece que ganhei nova vida”
É espantosa a força que provoca em nós uma frase:
“Que beleza tens dentro de ti!”
ou
“Já não suporto mais olhar para a tua cara”
As palavras têm o incrível poder de tornar o “ambiente” entre duas pessoas arejado ou poluído, fresco ou irrespirável, animador ou esmagadoramente cruel. Podem revigorar-nos ou encher-nos de revolta.
Já os gregos antigos pensavam muito a sério sobre a força que estava por detrás da palavra. E, acerca dela, chegaram a dizer que por detrás de tudo o que conhecemos havia uma realidade escondida aos nossos olhos, era como que o motor que fazia girar o mundo e era a causa de muitas coisas. Chamavam a essa realidade de Logos.
Era como o ritmo de uma música que, apesar de estar sempre lá, e ser fundamental para estruturar a melodia, o nosso ouvido nem sempre se dá conta da sua presença.
Os judeus antigos também pensavam nisto. Isso revela-se em duas Tradições de pensamento que podemos encontrar no Antigo Testamento.
Deus usou a Palavra para criar o mundo. Podemos ler isso no 1º Capítulo do livro do Génesis, esse poema belíssimo onde o escritor repete: “… e Deus disse:… e foi feito. E Deus viu que era bom!”
Outra Tradição começa a personificar a Palavra dizendo que ela é a Sabedoria de Deus.
“Saí da boca do Altíssimo e como uma nuvem cobri a terra (…)
Entre todas estas coisas busquei um lugar de repouso, e herança onde pudesse habitar.
Então o Criador do universo deu-me as suas ordens,
e aquele que me criou montou a minha tenda.
E disse-me: «Habita em Jacob
e toma Israel como tua herança».
Ele criou-me desde o princípio,
antes de todos os séculos,
e não deixarei de existir até ao fim dos séculos. (…)
Enraizei-me num povo cheio de glória,
na parte do Senhor, no meio da Sua herança.”
Sir 24,3.7-9.12
É bem verdade que, sem nos apercebermos muito bem disso nós, seres humanos, evoluímos sempre em torno das palavras que se dizem, escrevem, se materializam em mil coisas que fazemos a partir delas.
Tanta Cultura, tanta Sabedoria, tanta Reflexão, tantos Estudos transmitidos através de gerações e gerações… até aquele simples folheto de instruções tão útil (quase sempre na nossa língua também, eheh) que consultamos quando chega a hora de montar aquele objecto que nos chega às mãos desmontado, ou aquela máquina que é preciso pôr a funcionar, sem aquelas preciosas instruções perderíamos muito mais tempo.
Parece que tudo o que fazemos, desde que nos levantamos até que o dia termina está embrulhado em palavras.
Existimos relacionando-nos uns com os outros, em permanente comunicação, e quase sempre, quer seja no emprego nas funções que exercemos, quer seja expressando com os nossos mais íntimos aquilo que vamos sentimos, usamos tantas vezes as palavras para o concretizar.
As palavras metem-se na nossa vida, às vezes com tanta profundidade que não é estranho ouvir:
“O que disseste magoou-me!”
“A notícia que me deram arrasou comigo”
“Aquele boato que espalharam sobre mim quase destruiu a minha carreira profissional”
São palavras que nos “destroem”, que fazem desabar o nosso mundo.
Ou as palavras que nos levantam de novo:
“As palavras que me escreveste naquele dia deram-me tanto ânimo, parece que ganhei nova vida”
É espantosa a força que provoca em nós uma frase:
“Que beleza tens dentro de ti!”
ou
“Já não suporto mais olhar para a tua cara”
As palavras têm o incrível poder de tornar o “ambiente” entre duas pessoas arejado ou poluído, fresco ou irrespirável, animador ou esmagadoramente cruel. Podem revigorar-nos ou encher-nos de revolta.
Já os gregos antigos pensavam muito a sério sobre a força que estava por detrás da palavra. E, acerca dela, chegaram a dizer que por detrás de tudo o que conhecemos havia uma realidade escondida aos nossos olhos, era como que o motor que fazia girar o mundo e era a causa de muitas coisas. Chamavam a essa realidade de Logos.
Era como o ritmo de uma música que, apesar de estar sempre lá, e ser fundamental para estruturar a melodia, o nosso ouvido nem sempre se dá conta da sua presença.
Os judeus antigos também pensavam nisto. Isso revela-se em duas Tradições de pensamento que podemos encontrar no Antigo Testamento.
Deus usou a Palavra para criar o mundo. Podemos ler isso no 1º Capítulo do livro do Génesis, esse poema belíssimo onde o escritor repete: “… e Deus disse:… e foi feito. E Deus viu que era bom!”
Outra Tradição começa a personificar a Palavra dizendo que ela é a Sabedoria de Deus.
“Saí da boca do Altíssimo e como uma nuvem cobri a terra (…)
Entre todas estas coisas busquei um lugar de repouso, e herança onde pudesse habitar.
Então o Criador do universo deu-me as suas ordens,
e aquele que me criou montou a minha tenda.
E disse-me: «Habita em Jacob
e toma Israel como tua herança».
Ele criou-me desde o princípio,
antes de todos os séculos,
e não deixarei de existir até ao fim dos séculos. (…)
Enraizei-me num povo cheio de glória,
na parte do Senhor, no meio da Sua herança.”
Sir 24,3.7-9.12
É espantoso fazer esta caminhada até nos depararmos com o belo e profundo poema, um hino escrito no início do Evangelho Segundo João.
Dezenas de anos depois de Jesus de Nazaré ter morrido e ter ressuscitado, a força da sua vida fez nascer aquelas palavras, talvez já longe de Jerusalém, longe de Israel, no meio da reflexão e vivência fraterna de alguma comunidade de discípulos que as escreveu.
E é assim que começa, como quem desenha um pórtico de entrada espantosamente esculpido, de palavras vivas:
“No Princípio existia a Palavra,
e a Palavra estava com Deus,
e a Palavra era Deus.
Ela estava diante de Deus no Princípio.
Através dela todas as coisas foram feitas;
sem ela nada do que foi feito existiria.
Nela estava a Vida,
e essa Vida era a Luz de todos.
A Luz brilha na escuridão,
e a escuridão não a apagou.
(…)
A verdadeira Luz que a todos dá Luz
estava para chegar ao mundo.
Ela estava no mundo,
e apesar do mundo ter sido feito por ela,
o mundo não a reconheceu.
Veio para o que era seu,
mas os seus não a reconheceram.
Mas, a todos os que a receberam,
deu-lhes autoridade para se tornarem filhos por adopção
gerados por Deus
(…)
A Palavra tornou-se Carne
e montou a sua tenda entre nós.
Vimos a sua glória,
a glória do único Filho gerado
que veio do Pai,
pleno de Graça e Verdade.
(…)
Da sua plenitude
todos recebemos Graça no lugar da graça já dada.
Porque a lei foi dada através de Moisés,
Graça e Verdade vieram através de Jesus Cristo.
Nunca ninguém viu Deus,
mas o único Filho gerado por Ele,
que é Deus e está ao colo do Pai,
esse tornou-O conhecido.”
Jo 1,1-18
E, como não se pode falar destes escritos nascidos da reflexão e vida das primeiras comunidades de discípulos de Jesus, sem ter diante dos olhos toda a História caminhada, recordada, transmitida e escrita do povo de Israel com o seu Deus, então coloco aqui as palavras que já haviam sido escritas sobre o “Princípio”.
“No Princípio, Deus criou os céus e a terra.
A terra não tinha forma e era vazia,
a escuridão cobria a superfície do abismo
e a Ruah de Deus pairava sobre a superfície das águas.
E Deus disse: “Que a Luz seja feita”
E a Luz foi feita.
Deus viu que a Luz era boa, e separou a Luz da escuridão.”
Gn 1,1-4
Dá vontade de imaginar aqueles que, de entre os discípulos de Jesus das primeiras comunidades, tinham o carisma de colocar por escrito esse modo de experimentar as coisas à maneira hebraica, o fervor de uns poucos com sangue e vida judias a correr-lhes nas veias, sangue cheio de uma História caminhada, de um Deus com o seu amado povo… estariam provavelmente sentados à mesma mesa onde momentos antes se havia partilhado o pão com aqueles a quem olhavam nos olhos e chamavam de irmãos e irmãs no mesmo Espírito-Ruah de Deus, tendo o mesmo Pai de Jesus… e começarem a escrever sobre esta Notícia Boa que os queimava por dentro, tanto que não a conseguiam guardar dentro sem a “gritar” em palavras vivas que quebrassem a força e a dureza estática do Tempo.
Verdadeiramente acredito que a Ruah de Deus soprou-lhes ao ouvido do Coração o que haveriam de escrever.
E assim começaram…
“No Princípio…”
Já haviam sido as primeiras letras, as primeiras palavras a ser aprendidas na escola, repetidas vezes sem conta até estarem gravadas na memória… as do Livro do Princípio (Génesis)
Começar a escrever uma notícia nova desta maneira é, para um judeu, quase como voltar ao berço e reaprender, reescrever tudo de novo de maneira nova, para que nunca seja esquecido jamais o caminho percorrido até ali.
Era preciso marcar este Novo Tempo da Humanidade ressuscitada com Cristo como quem fala do Tempo da Nova Criação, inaugurado pelo novo Adão.
“No Princípio existia a Palavra.”
Parece fundamental afirmar o lugar que a Palavra tem na nova Criação, porque em toda a História se vêem, agora, sinais da sua presença.
E a presença desta Palavra traz Vida, uma Vida que é como Luz que nenhuma escuridão consegue anular, abafar ou apagar.
E, se mais adiante, encontramos a frase: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” na boca de Jesus, percebemos bem quem é esta Palavra viva.
O poema prossegue, como que a narrar a história desta Palavra que traz em si a Vida e a Luz.
Tal como a Sabedoria dos tempos antigos, a Palavra vem habitar no meio do seu próprio povo, aí monta a sua tenda, e mais que isto, faz-se Carne, faz-se humanidade da mesma Humanidade do seu povo.
Todos aqueles que iriam ler estas palavras iriam entender, cada um a seu modo, a força que nelas traz, tanto judeus como gregos. A Palavra Criadora saída de Deus, a Sabedoria personificada, e também o Logos, tinha-se vestido de Carne, tinha-se feito homem.
E porque esta Palavra é um homem, Jesus de Nazaré, é passível de ser acolhido ou excluído pelos seus.
Aqueles que o acolhem tornam-se com ele Palavra, Vida, Verdade e Caminho, tornam-se filhos adoptivos gerados por Deus. Tornam-se irmãos daquele que está ao colo do Pai. Tornam-se irmãos daquele que é Palavra porque com todo o seu ser diz quem é o Pai.
Mais do que um “veículo de comunicação” entre Deus e aqueles que se deixam gerar por ele como filhos, Jesus é aquele que nos capacita para O acolhermos como Pai, é aquele que reflecte no seu próprio rosto e em toda a sua vida a Luz d’Aquele que o gerou inteiro e plenamente.
E como é que este Jesus-Palavra do Pai O diz?
Jesus fala do seu Pai actuando
- com misericórdia,
- com honestidade,
- em todas as suas opções pelos fracos, pobres e denunciando os opressores
- com a sua fidelidade
- com a sua liberdade para bendizer e maldizer, porque nada pode ser obstáculo para fazer o bem
- com o seu querer o fim da desventura dos pobres e desejando a felicidade dos seus
- no seu acolhimento dos pecadores e excluídos
- com a sua alegria que repetidamente celebra à mesa da refeição
- com os seus sinais e gestos, um jeito modesto de tornar presente, também assim, a dinâmica do Reino de Deus já presente a curar e a libertar
- com a sua confiança num Deus Bom e próximo a quem sente e chama de Pai.
Jesus de Nazaré diz este Pai-Deus com o anúncio do Seu Reino, com a lógica do Seu agir.
Jesus de Nazaré diz este Pai-Deus com a sua Vida Toda, assumindo as consequências de todas as opções e denúncias com que o levaram à morte.
Jesus de Nazaré diz este Pai-Deus com a resposta que recebeu das mãos d’Ele, a resposta que o Pai não sabia calar, a Ressurreição do Filho, confirmando assim e assumindo como Sua, toda a sua vida.
Este homem, esta Palavra de Carne revestida agora de Ressurreição é verdadeiramente uma Boa Notícia.
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1 comentário:
Louvado sejas, Bondoso Senhor e Deus.
Shalom !Shalom!
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