“Jesus disse-lhes ainda esta parábola:
«PODE UM CEGO CONDUZIR OUTRO CEGO? NÃO CAIRÃO OS DOIS EM ALGUMA COVA?
Um discípulo não está acima do mestre, tendo sido bem formado, cada um será como o seu mestre.
PORQUE REPARAS no cisco que está no olho do teu irmão,
E NÃO REPARAS na trave que está no teu próprio olho?
- Como podes dizer ao teu irmão: 'Irmão, deixa-me tirar o cisco da tua vista',
tu que não vês a trave que está na tua?
Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás para tirar o cisco do olho do teu irmão.»
Não há árvore boa que dê mau fruto, nem árvore má que dê bom fruto.
CADA ÁRVORE SE CONHECE PELO SEU FRUTO;
não se colhem figos dos espinhos, nem se apanha um cacho de uvas de um silvado.
A pessoa boa, do bom tesouro do seu coração produz o bem;
e a má pessoa, do mau tesouro produz o que é mau;
pois A BOCA DELA FALA DAQUILO DE QUE ESTÁ CHEIO O SEU CORAÇÃO.»”
Lc 6,39-44
Como é habitual em Jesus de Nazaré, para nos fazer entrar no mistério do jeito de ser de Deus e da Sua Casa, conta-nos parábolas, aproximações, com situações do quotidiano.
Em que ambiente foram contadas estas breves parábolas/aproximações?
Um pouco antes podemos ler como, em dia de sábado (dia de descanso rigoroso para um judeu cumpridor da Lei), Jesus e os discípulos atravessaram uma seara e foram arrancando espigas para comer.
Não pareciam nada preocupados com o que iriam pensar os fariseus que certamente OBSERVAVAM de longe.
Os fariseus até metem conversa nada amigável dizendo:
“Porque é que fazem o que não é permitido ao sábado?”
No sábado seguinte, Jesus cura, dentro de uma sinagoga (outro “mau comportamento de Jesus porque essa atitude é, mais uma vez, “trabalhar” em dia de descanso rigoroso para um judeu cumpridor da Lei). O escritor repara bem na atitude dos fariseus:
“Os doutores da Lei e os fariseus OBSERVAVAM-NO, A VER se iria curá-lo ao sábado, para terem um motivo de acusação contra Ele.”
Jesus chamou um homem que tinha um problema na mão, pediu-lhe para SE COLOCAR NO CENTRO, ou seja, BEM DIANTE DOS OLHOS de todos, para que ninguém duvidasse. O que é estranho, porque Jesus não parecia nada preocupado com o que iriam pensar dele… e Jesus não era parvo… fez questão de dar a entender que sabia muito bem quem eram as pessoas que tinha ali. O escritor diz:
“… OLHANDO-OS A TODOS EM VOLTA, disse ao homem: «Estende a tua mão.»” E o homem ficou curado, e:
“Os outros encheram-se de furor e falavam entre si do que poderiam fazer contra Jesus.”
Parece que Jesus não agradava a toda a gente.
Parece que Jesus fez inimigos.
Parece que Jesus não sabia fazer nenhum teatro, sendo amiguinho de toda a gente.
E Parece que Jesus não estava nada preocupado com o que é que os outros iriam pensar.
Porquê… todos podemos ficar a pensar porquê…
Foi “naqueles dias” que Jesus foi para o monte, orar Àquele que gerou como Pai, e com Quem se deixou gerar como Filho. Em seguida chamou discípulos, DIANTE DOS OLHOS de uma multidão, para que caminhassem com ele, de maneira mais comprometida.
E eu pergunto-me… O que é que os outros milhares de discípulos da multidão que o seguia ficaram a pensar?
Mas parece-me que Jesus não estava preocupado com o que os outros iriam pensar.
Só depois disto DESCEU com aqueles que chamou, e na planície, aqui bem terra a terra, com a multidão a vê-lo e a escutá-lo começa a ensinar de muitas maneiras, até falar do absurdo do cego a conduzir outro cego, e da hipocrisia de um irmão que teima em apontar ao outro o problema que o outro tem no olhar, quando ele próprio vive um problema no olhar maior ainda.
Fala dos frutos da árvore, do que sai da boca e revela o que vai no coração.
De que cegueira falará Jesus?
O que serão os ciscos nos olhos e os empecilhos maiores que não deixam ver bem?
Quais serão os frutos bons ou maus de uma boa ou má árvore?
Parece que chave de leitura para entender estas parábolas é dada imediatamente por Jesus, mas não deixam de ser para mim um mistério, não deixam de me interrogar sobre tantas coisas, sobretudo o que quererá ele dizer sobre o rosto de Deus, sobre a Casa de Deus, sobre a Família de Deus, sobre o que é agir ao jeito de Deus, sobre o que faremos nós para que o Agir de Deus se faça presente aqui e agora…
… e ainda mais que tudo, sobre o que nunca deixaremos de fazer por saber que muitos andam por aí a magicar o que é que os outros vão pensar disto ou daquilo que somos ou fazemos, e como podemos tornar-nos hipócritas e falsos para agradar a gregos e a troianos…
Sem comentários:
Enviar um comentário