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Auquele que não foi curado

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Parece que há histórias assim… vidas… aparentemente destinadas a não ter um “Happy end”, da minha muitos poderiam dizer isso.
Alguém me tinha falado dele, esse que era de Nazaré, um povoadozito mal conhecido do Norte. Diziam, ao falar do Nazareno, que finalmente o Coração dos Céus de Deus se havia aberto novamente depois de centenas de anos fechado. Abriram-se os Céus com o dom deste grande profeta, grande em palavra e obra.

Para quem a vida nunca foi muito favorável não é muito fácil acreditar nestas conversas. Porque raio esse Deus Se haveria agora de lembrar de nós?... Não terá Ele mais que fazer?
Seria bom demais acreditar.
Mais certo será que isso seja boato começado por uns quantos fanáticos que gostam de ver e imaginar o que não existe.

Duvidei de mim próprio, e disse a mim mesmo:
“Matias, põe-te a caminho… sabe-se lá se…”

Se deambulava por aí algum profeta a falar e curar em nome de um qualquer deus eu não perdia nada em acreditar que era possível curar-me da minha cegueira. Ou seria uma esperança em vão?... Enquanto acreditasse seria feliz…

Coloquei-me a caminho

Coloquei-me a caminho, atrás desse nazareno. Por três vezes, sempre no meio de grande multidão, quase me aproximei, quase lhe toquei, quase lhe falei, quase deixei que me curasse.

Quase…
Não gosto particularmente de multidões. São como muros que me impedem de procurar, encontrar e falar.

Sou o Matias, aquele que, no meio da multidão, não foi curado pelo nazareno da sua cegueira. Talvez tivesse tentado aproximar-me mais vezes, mas em pouco tempo os Grandes mataram-no.
Vi que ele nem fugiu, nem formou exércitos com as multidões de homens, mulheres e crianças que o seguiam para todo o lado. Cá estava um grande sinal, sofreu a mesma sorte de todos os profetas. Mas ele era mais que profeta…

Quando o nazareno, ao ser morto, deixou de ser um, passou a ser vivo em muitos, foi então ele que se aproximou de mim, me procurou, encontrou e falou.

Hoje, com mais oito ou nove irmão, irmãos pelo Espírito de Deus, vivo a partilha, a esperança, a comunhão, a fé, o amor num Deus que acredito ser meu Pai, salvo do meio de multidões, numa família de irmãos que se conhecem pelo nome e se olham nos olhos uns dos outros.

Sou o Matias, aquele que não foi curado pelo nazareno no meio da multidão.



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1 comentário:

figlo disse...

Um vivente que não é um...está vivo em muitos...um vivente que continua a curar e a tirar escamas dos olhos...que põe de pé gente paralizada por ignorância e medo do pecado...um vivente que põe na boca de gente dantes medrosa e acanhada, palavras capazes de Esperança e de Futuro...
Tanto tu como nós somos de algum modo "Matias". Não tocámos Jesus...mas, na Sua ressurreição, o testemunho das primeiras comunidades chegou-nos de geração em geração. A Sua Vida ressuscitada chegou-nos por dom e "tradição"/testemunho.Grande é a missão a que somos chamados:
-aceitar, agradecer e testemunhar também esse vivente para que Ele continue a curar...