PORQUÊ, AFINAL, CONFESSAR-SE?
(de uma reflexão do arcebispo Bruno Forte)
Apesar de tudo, não me atrevo a dizer que o mundo é mau e que fazer o bem é útil. Estou , pelo contrário, convencido de que o bem existe e é superior ao mal, que a vida é bela e que viver rectamente, por amor e com amor, vale verdadeiramente a pena.
A razão profunda que me faz pensar assim é a experiência da misericórdia de Deus, que faço em mim próprio e eu vejo resplandecer em muitas pessoas humildes: é uma experiência que vivi muitas vezes, quer concedendo o perdão como ministro da Igreja, quer recebendo-o.
Há muitos anos que me confesso regularmente, várias vezes por mês, e com alegria o faço. A alegria nasce do facto de me sentir amado num modo sempre novo por Deus, todas as vezes que o perdão me é concedido pelo sacerdote que age em Seu nome. É a alegria que vi tantas vezes no rosto de quem vinha confessar-se: não o fútil sentido de leviandade de quem "despejou o saco" (a confissão não é um desafogo psicológico nem um encontro consolatório, ou pelo menos não o é principalmente), mas a paz de sentir-se bem "por dentro" tocados no coração por um amor que cura, que vem do alto e que nos transforma.
Pedir com convicção, receber com gratidão e dar com generosidade o perdão, é fonte de uma paz sem preço: por isso é justo e belo confessar-se.
Quereria tornar participante das razões dessa alegria todos aqueles que conseguir alcançar com esta carta.
E PORQUÊ CONFESSAR-SE A UM SACERDOTE?
Perguntam-me então: porque é preciso confessarmos a um sacerdote os nossos pecados e não podemos falar directamente com Deus?
Com certeza, é sempre a Deus que nos dirigimos quando confessamos os nossos pecados. Mas é o próprio Deus que nos faz entender que é necessário fazê-lo a um sacerdote: escolhendo o Seu Filho na nossa carne, Ele demonstra querer encontrar-Se connosco mediante um contacto directo, que passa através dos sinais e das linguagens da nossa condição humana.
Como Ele saiu de Si mesmo por nosso amor e veio "tocar-nos" com a Sua carne, assim nós somos chamados a sair de nós mesmos por seu amor e ir com humildade e fé, ter com quem pode dar-nos o perdão em Seu nome, mediante a palavra e o gesto.
Somente a absolvição dos pecados, que o sacerdote nos dá no Sacramento, pode comunicar-nos a certeza interior de sermos verdadeiramente perdoados e acolhidos pelo Pai que está nos Céus, porque Cristo confiou ao ministério da Igreja o poder de ligar e desligar, de excluir e de admitir na comunidade da aliança (cf. Mt 18,17).
Foi Ele que, ressuscitando da morte, disse aos Apóstolos: "Recebei o Espírito Santo; os pecados daqueles a quem perdoardes, serão perdoados. Os pecados daqueles a quem não perdoardes, não serão perdoados" (Jo 20,22ss).
Por isso, confessar-se a um Sacerdote é completamente diferente do que fazê-lo no íntimo do coração, exposto a tantas inseguranças e ambiguidades que povoam a vida e a História.
Sozinhos não poderemos jamais saber verdadeiramente se foi a graça de Deus que nos tocou ou a nossa emoção, se fomos nós que nos perdoámos a nós mesmos, ou se foi Ele pelo meio que Ele mesmo escolheu.
Absolvidos por alguém que o Senhor escolheu e enviou como ministro do perdão, poderemos experimentar a liberdade de que só Deus concede, e compreenderemos porque é que a confissão é fonte de paz.
(...) A Igreja jamais se cansa de nos propor a graça deste Sacramento durante a inteira caminhada da nossa vida: através dela é Jesus, verdadeiro médico celeste, que toma sobre Si os nossos pecados e nos acompanha, continuando a sua obra de cura e de salvação.
Como acontece em todas as histórias de amor, também a aliança com Deus deve renovar-se continuamente: a fidelidade é o compromisso sempre novo do coração que se oferece e acolhe o amor que lhe é oferecido, até ao dia em que Deus será tudo em todos.
4 comentários:
Olá Anawîm!!!
Quse senti a leveza da Confissão ao ler o teu post!
Adorei! Vou tentar levá-lo a outros que não compreendem a Confissão!
Muita força!
:))
Tenho opiniões semelhantes e diferentes... Curioso, não é?
Obrigado pelo teu comentário no meu blog, coloquei lá um link para os teus blogs.
Fica bem,
Miguel
Amigo, tenho um desafio para ti no meu blog, passa lá.
xau
Obrigado pela tua visita... tb sinto a falta das tuas partilhas, sobretudo neste deserto quaresmal...
Abraço a tua alma no Pai...
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