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2... Yeshua ha-notsri...


Yeshua bar Yosef… Jesus filho de José
Yeshua ha-notsri… Jesus o de Nazaré

Yeshua era um nome muito comum por aqueles lados… Significa “Deus salva”!
Por isso era importante acrescentar algo mais para que melhor o identificasse… o nome da família, e o nome do povo… entre os judeus muito se ficava a saber com estas referências.

Ele era “galileu” para muitos com quem se encontrava. Ou seja, não era da Judeia (cujo centro era Jerusalém, lugar onde se cumpria fervorosamente todo o culto ao Deus Altíssimo), e também não era da Diáspora (colónias judias em territórios longínquos, estabelecidos pelo império romano)
Era da Galileia, da povoação de Nazaré… uma aldeia desconhecida e longe da cidade santa de Jerusalém. Ficava tão longe que, provavelmente por isso mesmo, os galileus não estariam habituados a uma interpretação demasiado ritualista da Lei. Na Galileia, pelas suas tradições, falava-se mais dos “profetas do norte” como eram Elias, Eliseu ou Jonas, e nunca dos reis e sacerdotes de quem se falava mais na Judeia, cujo centro era Jerusalém com o templo.

No entanto, os galileus subiam em peregrinação a Jerusalém, muitos teriam talvez parentes na cidade ou arredores. A peregrinação a Jerusalém, mais que um acontecimento religioso, era um importante acontecimento social… uma época de encontro em que se fazia festa e aproveitava-se a ocasião para se fazerem também umas compras nesta grande cidade.

Não eram tempos fáceis… tal e qual como não o são hoje!...
A História desta terra é cheia de lutas por este território fértil e verdejante e com importantes acessos ao mar.
Neste tempo, Roma havia conquistado muitos povos, formando um vasto e forte império, e tinha interesse também neste pequeno território, porque também nele se cruzavam importantes rotas comerciais.
Roma não ocupava os territórios conquistados, defendia apenas as suas fronteiras com as suas legiões e delegava poder a algum soberano, quando possível, da própria região, que se tornava então vassalo ou cliente do imperador romano, era através deste vassalo que o imperador romano governava o país, tendo no território livre acesso e cobrando impostos aos seus habitantes adultos e impostos sobre as colheitas aos que possuíam terrenos de cultivo…
Estes impostos serviam para alimentar as tropas, construir caminhos, pontes e edifícios públicos, mas mais que isso, serviam para alimentar todos os luxos do imperador e a sua elite.
Estes governadores nomeados pelo imperador romano para controlar os territórios dominados, em seu nome, controlavam os povos de maneira brutal e tiravam o seu próprio proveito por causa do lugar que ocupavam, com mais impostos. Estes impostos, além de alimentar todos os seus luxos, serviam para construir cidades de estilo grego ou romano, como por exemplo Cesareia do Mar que era como que uma pequena cópia da própria grande cidade de Roma. Erguiam também estátuas em honra do imperador romano, a quem se prestava culto como a um deus, para que o povo não esquecesse e se sentisse esmagado por quem tinha ali o poder supremo, ao mesmo tempo que era consentido o culto ao Deus de Israel.

Daqui podemos entender como era grande o peso dos impostos, e era difícil fugir aos cobradores de impostos… muitos, sob este peso, acabavam por perder as suas terras, por causa do que mais temiam, as dívidas. Os membros da família ajudavam-se para não sucumbirem ao peso das dívidas, mas para muitos era inevitável a perda das terras e começava então a degradação.
Uns tornavam-se jornaleiros, procurando trabalho em terras de outros, recebendo ao fim do dia o pagamento do seu trabalho, outros vendiam-se como escravos, outros tornavam-se mendigos, muitas mulheres acabavam desesperadamente por se prostituir… outros ainda formavam grupo como salteadores ladrões em algum deserto do país.

Yeshua vivia e conhecia bem toda esta realidade, sabia como os camponeses tentavam tirar ao máximo rendimento dos seus cultivos, chegando talvez até desesperadamente a lançar semente também em solos com pedras, no meio dos espinhos e em lugares de passagem.

A elite das cidades, que se ocupava apenas das tarefas de governo, administração, cobranças de impostos ou vigilância militar, sempre procurou lucrar à custa dos camponeses… e dos pescadores que também não viviam melhor por lhe serem cobrados impostos por direitos de pesca e utilização de embarcações… desde o Imperador romano com todo o seu séquito, passando pelos governadores dos territórios, até aos próprios cobradores dos impostos, todos tentavam sempre aumentar o imposto cobrado para ficarem com uma boa parte.
Parece que, afinal, os tempos não mudaram muito… e vivemos agora, a mesma realidade… o modo de agir dos Corações é igual, só mudam as “ferramentas”…

No meio deste vasto império, Yeshua bar Yosef, era só mais um insignificante galileu, que fazia parte de um pequeno povo submetido, e de uma aldeia pobre e desconhecida, situada longe das cidades mais importantes, ou seja, longe do poder político e militar, longe da administração, longe dos grandes centros culturais, longe das moradas das classes dirigentes e dos grandes proprietários, longe das grandes rotas comerciais que atravessavam a Galileia e uniam os povos do Oriente ao mar… longe, excepto da cidade de Séforis que ficava a 5km de Nazaré.
Depois da morte de Herodes o Grande, que foi um dos mais terríveis soberanos que havia sempre conseguido reprimir com dureza qualquer gesto de rebelião, alguns judeus encontraram espaço para a revolta. Sabemos, historicamente, que Yeshua teria 3 ou 4 anos quando Séforis foi incendiada, em consequência destas rebeliões. Roma reagiu e invadiu o país com as suas tropas, apoderou-se de Jerusalém e seus arredores fazendo muitos judeus escravos e crucificou os mais rebeldes. Apoderou-se de Séforis e incendiou-a, assim como a muitas aldeias vizinhas, aterrorizando o povo e levando também como escravos a muitos habitantes da região.

Séforis ficava a 5km de Nazaré… Yeshua teria 3 ou 4 anos…
Como terá vivido ele e a sua família este momento?...


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