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15... Eloí, Eloí, lemá sabachtáni...?


“Meu Deus, meu Deus, porque me deixaste sozinho, abandonado?"

Sim, bem podemos imaginar que esta tenha sido uma das últimas frases que ouviram Yeshuah dizer, gritar, ou talvez chorar.
Era terrível aquela tortura!...
Ser “levantado da terra” e assim atrair todos a ele, não se estará a falar provavelmente do momento da sua execução na cruz. O número sem conta de crucificados, essa tortura elaborada de tantas maneiras, talvez tivesse em comum o facto de erguer o condenado a até cerca de meio metro do chão, completamente nu.

Quem estivesse por perto podia olhá-lo nos olhos, sem dificuldade por estar mesmo quase à altura de qualquer um. Seria por isso mesmo que não era permitido a ninguém aproximar-se do local da execução, para que não houvesse a tentativa de libertar os condenados… por outro lado, estando tão perto do solo, os abutres e cães selvagens que já por ali vagueavam podiam apoderar-se dos crucificados ao morrer.

O local era muito bem escolhido… bem perto de algum caminho bastante frequentado pela passagem de peregrinos.
Era uma prática comum… era quase como um espectáculo para gostos mais doentios, que já a ninguém chocava.
Nestas execuções públicas importava demonstrar o esmagador e terrífico poder daqueles que dominavam, sob pretexto de zelar pela paz e bem-estar de todos. Os possíveis rebeldes eram executados numa tortura lenta até à morte, para servir de exemplo. Por isso era afixado o motivo da condenação, para que todos soubessem… Que ninguém se atrevesse a cometer o mesmo “crime” porque haveria de ter o mesmo cruel destino.
E assim todos conheciam qual o destino daqueles roubavam e assassinavam e também o igual destino daqueles que ameaçavam a lógica do poder.

Yeshuah também conhecia muito bem esta lógica e terá visto inúmeras execuções assim, imaginava bem que poderia ter ele mesmo, o mesmo destino.
A tristeza mortal, e todas as dúvidas que humanamente lhe surgiram, ele as viveu inteiramente. Bastaria calar-se e salvaria a sua pele. Mas, e se o anúncio do Reino precisava de mais tempo para amadurecer? Seria mesmo preciso arriscar até a própria vida por não se calar? E o que farão? De tantos modos o poderiam calar… o pior que poderia acontecer era a cruz. Valeria a pena arriscar-se a tanto? Como reagiriam os seus companheiros e companheiras?

Ele assumiu mesmo todas as consequências do anúncio do Reino.
E a pior acusação de todas terá sido mesmo sugerida pelos sumo-sacerdotes… condenado à pior tortura, para servir de exemplo aos que desafiavam os poderosos. Numa maquinação armada facilmente pelos sacerdotes do templo de Jerusalém, executada pelo poder romano da época, sem a força do seu povo, abandonado pelos seus amigos próximos, abandonado pelos seus companheiros… apenas algumas das suas companheiras estão ali, à distância permitida… e as mulheres não representam ali nenhuma ameaça. Ninguém se preocupa em perseguir os seus discípulos, são vistos como um bando de ignorantes cobardes, gente da aldeia. E para este necessário “espectáculo”, Yeshuah parecia bastar-lhes…

Terão as mulheres ouvido esse gemido do mestre amado?... Conheciam-no bem, o suficiente para imaginarem como estaria ele a viver este momento.
Seria estranho que, os que escreveram o evangelho de Marcos, tivessem colocado tão ousadamente esta frase de um salmo na boca de Yeshuah, sem que a tivessem ouvido mesmo dele.
Seria esse o sentimento dele?

“Meu Deus…
… Deus do meu Israel,
Deus da minha vida,
Deus do meu povo
Deus meu que, neste momento, não consigo chamar carinhosamente de Abba…
…as Tuas Mãos não me forçam a correr ao Teu encontro, eu não saberia para onde estaria a correr.
… as Tuas Mãos não me motivam para que eu salve o grande dom que a minha vida é, esta vida que me foi dada por Ti.
… as Tuas Mãos, não as vejo, porque não vejo os meus companheiros da construção do Teu Reino já começado, a confirmarem-me, por Ti, que escolhi o caminho certo.
… as Tuas Mãos, são tudo o que tenho, sem ver.
Estou só.
Agora é contigo. Acredito que só Tu podes o que pode esse Amor, essa Luz, essa Vida que és Tu.
Agora é contigo.
Estou aqui todo, inteiro, não me guardei para mim…
Estou aqui todo, inteiro… nas Tuas Mãos que não vejo.”


Yeshuah…
… no momento em que libertaste o teu respirar do teu corpo finito, mortal, o Abba soprou em ti a Ruah, e preencheu-te para sempre.
Estás vivo!...
Deus “acordou-te”!
O Abba querido “levantou-te”!
Que força amante traz agora a tua Presença…!
Que força amante!...

A Ruah em ti, pelo Abba querido fez germinar de modo explosivo, fascinante, no mais íntimo dos teus companheiros e companheiras que se sentaram à mesa contigo, a urgência do anúncio da Vida que és, e da Vida do Reino que a tua Vida sempre anuncia. Esses que tinham fugido diante do terror, da confusão interior, do medo da perseguição e da morte…
Voltam a Jerusalém e publicamente anunciaram…

e publicamente, a todos, ANUNCIAM:

O Abba fez “levantar”, fez “acordar” do sono da morte, o nazareno Yeshuah que estava morto e agora está vivo, com esse respirar da Ruah.
O Abba tomou partido por ele, confirmou e garante assim como toda a vida do Yeshuah é o autêntico e digno destino de todo o ser humano… a Vida no Reino.
O anúncio do Reino, feito pelos companheiros de Yeshuah é assim que começa.

E todos perguntaram,
e todos perguntam:

“Quem é esse homem?”

E depois de o conhecerem perguntam:
“E agora, o que posso fazer?... O que podemos fazer?”

É aqui que começa o Evangelho, a Notícia Boa anunciada pelos companheiros e companheiras do nazareno Yeshuah… é aqui neste desejo que surge…
“Rabi, onde moras?”
É o Vivente Jesus… é o Yeshuah que buscamos, a quem ele responde:
“Venham ver, comigo…”
Eles foram, nós vamos…
… e ficamos com ele na tarde desse dia que é uma vida inteira a começar de novo, renascida, verdadeira, eternizada, amada, entregue, comungada, num Corpo que Nasce unido com ele.

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