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2 - Quem era ele?




Quando conhecemos alguém especial, que passa a fazer parte da nossa vida, não começamos por conhecer o momento e as circunstâncias em que nasceu.
A vida acontece, e em permanente movimento nela, vamos conhecendo pessoas, no presente, no aqui, no agora.
O diálogo acontece, e em permanente troca de mensagens de muitas maneiras, vamos conhecendo o outro, no aqui, no agora… Acontece com maior facilidade quando existem pontos em comum, ou questões comuns, ou descobertas comuns, ou infelicidades comuns, ou alegrias comuns. Em conversa, descobre-se que há divergências em muitas outras coisas, ou não…
Só depois é que, aprofundada a relação de amizade, surgem as perguntas do passado.
Às vezes, em conversa, a pessoa olha para trás no tempo, e até começa a ver a sua própria vida com outros olhos, ao partilhá-la.
Às vezes é assim, para ver bem um quadro pintado… uma obra de arte, se estivermos com o olhar demasiado próximo, não se entende nada… precisamos de nos afastarmos para, ao ver todo o quadro o entendermos… Depois até poderemos aproximar-nos, mas só depois, porque aí estaremos realmente conscientes de estar a ver um pormenor de todo o quadro.
Às vezes também é assim com a vida. O tempo ajuda a que nos afastemos do “quadro”, até que começamos a entender-lhe todo o sentido, toda a lógica, e contemplarmos até aqueles momentos bons e menos bons como fazendo parte de todo o quadro que lhe dá uns toques especiais, únicos.

Conhecer Jesus de Nazaré deve ter sido uma experiência absolutamente única na vida daqueles poucos que viveram tão próximo dele. Tinha certamente um olhar sem medos nem preconceitos, e um abraço sempre pronto a dar, uma alegria de viver que transparecia mesmo quando não sorria. Uma presença forte, segura… perturbadora para os incomodados com a sua mensagem.

Faz-nos bem tentar imaginar Jesus de Nazaré, a aproximar-se da praia, descalço pela areia, e “vê-lo” meter conversa despreocupada com os pescadores, enquanto estes remendam as redes. Sim, ele fez amizades, criou laços humanos, desses que nós fazemos também.

Aquele tempo que Jesus viveu de “vida pública”, como nós lhe chamamos, foi muito breve. São os que estiveram próximos de Jesus durante este tempo especial, que hão-de guardar na memória o que viveram com aquele mestre, que não era mestre ao jeito dos rabinos do templo, mas era mestre de saber viver, de saber amar, de saber que Deus é um Pai e que espera por nós, que espera que com o Seu Sopro, a Ruah, formemos laços, sejamos Família no próprio Coração de Deus-Família. A este mestre Jesus de Nazaré, os seus mais próximos, tratavam-no e amavam-no como um verdadeiro amigo… devem ter passado depressa demais aqueles três anos.

Anunciou a proximidade da Família de Deus… e em pouco tempo, os “incomodados” com essa Notícia Boa mataram-no, porque ele nunca a negou nem rejeitou.
Deus ressuscitou, levantou de novo o Nazareno, como Alguém que coloca o Seu próprio Selo de confirmação. “Esta vida é a Primeira de muitas de Mim”… É o Primeiro do Reino-Família do Abba.

Como o souberam esses que viveram tão próximos de Jesus, não sabemos… mas alguma coisa muito forte aconteceu para que do medo escuro em que estavam eles próprios “mortos”, surgissem todos eles iluminados, inebriados não de vinho, mas de uma alegria diferente de tudo o que conheciam até aí. Uma certeza inabalável de que o mestre estava vivo… mataram-no mas agora estava vivo! E uma incapacidade de guardar neles mesmos essa Notícia… numa necessidade explosiva de o comunicar, como quem precisa de ar para respirar.
Deus levantou de novo Jesus, nomeando-o assim Messias e Salvador.

E assim a escrita destas coisas começou...
Vivemos de memórias, de História, de olhar para trás e entender a construção de tudo isto.
E formaram-se comunidades de partilha das vidas e das memórias da vida deste homem Jesus. Recordava-se o modo como ele sofreu e morreu, recordavam-se as parábolas contadas por ele às multidões, os sinais que realizava…
Afinal quem era ele, este homem Nazareno?

Aos poucos, foram entendendo que ele era o Messias Salvador, o Profeta anunciado desde os tempos antigos, ele era o novo Moisés que liberta todo o povo e o conduz a uma Nova Aliança inaugurada por ele.
Mas, em que momento, Deus o escolheu e lhe confiou a missão de Messias Salvador?

A reflexão que deu origem ao evangelho segundo Marcos afirma:
- Foi com o Baptismo de João.
Esse momento em que Jesus irá aderir à mensagem de João que baptiza nas margens do Jordão, no deserto.

Mais tarde, a reflexão que deu origem ao evangelho segundo Mateus diz:
- Jesus é o Messias, desde o seu nascimento,
e até mais, toda a História da Salvação do Povo de Israel, desde Abraão, estava a ser preparada para este momento.

Na mesma época, a reflexão que deu origem ao evangelho segundo Lucas diz:
- Jesus é o Messias, desde o seu nascimento,
e até mais, toda a História da Humanidade, não só desde Abraão, mas desde o princípio, em Adão, já Deus preparava a Salvação através de Jesus.

Mais tarde, a reflexão comunitária que escreverá o evangelho segundo João diz:
Jesus é o Messias desde sempre. Jesus é o Filho de Deus. E toda a Criação estava a ser preparada para o Filho, e com o Filho.

1 comentário:

Anónimo disse...

Isto é MUITO BONITO!