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4 - Jesus, filho de uma jovem mulher




Com a elaboração de uma genealogia, Mateus diz que Jesus é o descendente de David, prometido por Deus… diz que Jesus é o Emanuel, o Deus connosco aqui.

É descendente, por parte de José, obviamente, porque na cultura deste povo, só o homem é que conta legalmente na determinação genealógica. É o pai que dá o nome ao filho.
Mas, neste relato de Mateus, é colocado aqui o nome da mãe, de modo absolutamente excepcional. Será porque Jesus é somente filho de Maria, e José seria apenas o pai adoptivo?...
Não necessariamente. Se Jesus fosse adoptado por José, ainda assim, segundo a cultura do tempo, não seria necessário colocar o nome da mãe na genealogia. É o pai, biológico ou não, que dá o nome ao seu filho… e no caso de Jesus estaria já provada a sua descendência de David de qualquer dos modos.
Mateus considerou importantíssimo que o nome da mãe constasse da lista genealógica, por causa da profecia de Isaías ao rei Acaz. Seria uma jovem mulher a gerar o descendente Salvador.
Tal como na profecia de Isaías foi importante mencionar a jovem, aqui, em Mateus, como que em paralelo, era necessário mencionar o nascimento de Jesus, de uma jovem mulher.

Nos relatos de Mateus 1,23 e Lucas 1,27 a mãe de Jesus é chamada de “a Virgem”… uma menção que aparece unicamente no início destes dois relatos da infância, e nunca mais se fala da mãe de Jesus como sendo “a Virgem”, em todo o Novo Testamento. É muito importante esta observação. É que, acerca disto, nunca podemos esquecer que os relatos dos evangelhos têm uma única pessoa central… JESUS…
É sempre e só em função de Jesus que todos os relatos são reflectidos, elaborados e escritos.

Para dizer que nenhum homem seria capaz de sonhar, projectar, criar, gerar o Dom maior de Deus, esse Presente que Deus estava a preparar desde sempre para a Sua Amada Humanidade, é dito que somente Deus poderia gerar no ventre de uma mulher o Salvador, o Messias, o Redentor…
Verdadeiramente é Dom de Deus, este Jesus, desde o seu nascimento.
Verdadeiramente só um gesto, uma vontade sobrenatural, divina, seria capaz de oferecer à Humanidade inteira o maior Dom de Deus… Jesus. E para dizer isto do modo mais belo diz-se que Jesus, o inaugurador da Nova Aliança foi gerado pela vontade de Deus, de uma Virgem, porque aqui não houve a intervenção da vontade de Homem algum…
… em paralelo contrário àquele que é gerado sobrenaturalmente, como Dom de Deus, mas que é fruto da Antiga Aliança, João Baptista, filho de pai e mãe já velhos, tal como velha e envelhecedora era a Lei e a lógica do Templo. Do ventre de uma mulher já incapaz de gerar filhos, Deus gera João Baptista.

É a incapacidade da Humanidade, envelhecida, pela longa infidelidade ao seu Deus… estéril pela incapacidade de acolher o Novo…
É a Humanidade cansada e velha pelo peso de todas as cadeias acumuladas, que é o que acontece com quem ainda não descobriu o rosto de Jesus.
Deus é capaz de gerar nela uma esperança, mais uma, de uma linhagem de profetas… João Baptista.

Deus faz gerar do ventre estéril de uma mulher anciã, João Baptista, o último dos profetas da Antiga Aliança...
Deus faz gerar do ventre virgem de uma mulher jovem, Jesus, o inaugurador da Nova Aliança...
Deus oferece o Seu Dom Novo, Jesus, para a Nova Humanidade da Nova Aliança incapaz, por si só de gerar esse Dom para si mesma, expectante da esperança do Novo Reino-Família de Deus, mas ainda sem a conhecer, sem a saber… expectante do encanto visto nos olhos simples das crianças e dos anawîm, que colocam em Deus a sua confiança total porque mais nada têm a perder, que acreditam que Deus, de alguma maneira Deus há-de tomar partido por eles, porque mais ninguém têm que os defenda. É esta a linhagem de Jesus, o resto do povo, aqueles que sobravam e estavam à margem da velha Lei.
Esta incapacidade só é superada por puro Dom gratuito de Deus.
A Humanidade inteira, sozinha, não encontraria o seu sentido pleno sem a presença actuante de Deus através do Seu Respirar, da Sua Ruah

O que é central aqui… a mensagem a reter é o jeito sobrenatural de Deus agir. Ainda que seja dizendo,
como no último vídeo que postei, que uma criança foi capaz de retirar do caminho uma árvore mil vezes maior e mais pesada do que ela.
O “milagre” que aquele menino fez acontecer tem que ter algo de sobrenatural… tem o “dedo” de Deus, tem a lógica do Reino-Família de Deus ali a fermentar.

O que aqui está em causa não é um factor biológico (virgindade), mas o factor sobrenatural, divino, deste nascimento.
Jesus é gerado por vontade de Deus.
Alguém que deixou que o Espírito de Deus habitasse nele com tamanha força, como aconteceu com Jesus, só pode, ele mesmo, ter sido gerado pelo Espírito, a Ruah de Deus.

Isto, caros amigos, em nada abala a minha fé num Deus capaz de agir e realizar a Sua Promessa, oferecendo o Seu Dom maior, entrando na Humanidade pelo amor doado entre um homem e uma mulher, amor querido e abençoado por Ele.
Isto não tira, em absoluto, nada à dignidade e afecto devido à mãe de Jesus… pelo contrário.
Ser mãe de Jesus, tão humanamente como o terá sido, faz-me pensar como terá sido ela uma mulher extraordinária, excepcional, enquanto ensinou e ajudou Jesus a crescer e fazer-se homem… e o modo como terá vivido os momentos mais dolorosos da vida de Jesus.

Já está mais do que na hora de nos libertarmos de todas as velhas cadeias que temos na mente, fruto de teologias que foram elaboradas durante séculos, dentro de mosteiros de homens celibatários, que cultivavam o desprezo pela mulher e da sua sexualidade.
Maria, para estes, tinha que ser virgem biologicamente desde sempre e para sempre, como uma deusa qualquer. Além disto, durante séculos, o acto sexual foi visto como pecado da carne… do corpo que supostamente era a prisão da alma… uma lógica que nada tem a ver com o ser humano criado e amado inteiramente por Deus.

Como escrevi anteriormente, Lucas vai descrevendo toda a infância de João Baptista em paralelo com a infância de Jesus. Mas há o cuidado de, em cada pormenor do relato mostrar uma maior perfeição no caso do anúncio, nascimento e infância de Jesus.

Mateus fará algo semelhante, traçando a infância de Jesus paralelamente à de Moisés.

Próxima reflexão… os pormenores do nascimento…

Até já…


3 comentários:

José A. Vaz disse...

Ainda que Ele fosse biologicamente Filho de Maria e José, nada impediria que fosse o Filho de Deus; como é.
Noutro registo, sobre a Imaculada Conceição (não a conceição virginal) postei em 9/12 algumas reflexões/provocações a partir dum livro sobre Maria...

Anónimo disse...

O pior que nos pode acontecer é, em vez de nos apaixonarmos por Jesua, nos apaixonarmos e fazermos finca pé de "verdades" que nos "põem a ridículo por causa da nossa fé religiosa" (S. Tomaz de Aquino). Anawin. pf, não tenhas pressa de passar à frente! Isto precisa de tempo para ser mastigado e saboreado...Já que ninguém liga ao que vem claramente, na G,S.19..."é por isso que na génese do ateísmo,os próprios crentes podem ter uma parte não pequena, na medida em que, pela negligência da cultura da sua Fé, pela exposição defeituosa da doutrina e também por faltas na vida religiosa, moral e social, se pode dizer deles que ocultam, em vez de revelarem, o rosto autêntico de Deus e da religião"
A chamada "Nova Evangelização" que deve ser senão abrir-nos oa olhos para o Amor, retiradas todas as teis da aranha?!...Desculpa ter-me alargado...Um abraça Glória.

Anawîm disse...

José...
Hei-de ir lá espreitar o que reflectiste sobre a Imaculada.
Um grande abraço para ti...

Glória...
Tens toda a razão...
Vou deixar esta escrita por cá... mais um dia "de molho", amanhã já continuo...
E olha que até nem te alargas nada... eheheh... às vezes até me dava vontade de fazer como o amigo Santiago do "estaminé" aqui ao lado e colocar a riqueza das tuas reflexões em jeito de remate mesmo nos posts...
Um grande abraço para ti