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5 - Jesus e Jonas


Ainda assim Jonas fica por ali, longe mas sem sair dali
não está na cidade, mas também não parte dali
Acampa num lugar de onde pode observar a cidade de Nínive.
Ali fica a remoer o seu desagrado pela decisão do seu Deus, fechado sobre si próprio… sozinho.




Esta cena, temos que admitir, é uma verdadeira delícia… É que vemos Jonas amuar e a “bater o pé” como fazem as crianças pequenas (ou grandes) quando as coisas não correm como elas querem.
Jonas está chocado com a atitude de Deus!
Jonas está ESCANDALIZADO com o Amor que Deus declara!
O que é mais curioso… é que o resultado de toda esta história não é novidade para Jonas… mas é ESCÂNDALO!

É possível não nos maravilharmos com isto?

Temos um Deus que nos escandaliza, rebenta com todos os nossos esquemas de justiça ou outra coisa qualquer que lhe quisermos chamar como, por exemplo, zelo religioso…
O nosso Deus é a pessoa menos religiosa que possamos conhecer porque não está nada preocupado em defender o clube da Sua “religião”, com as Suas “morais”, com todas as Suas “Regras, Leis, Mandamentos ou Catecismos”, nem em estabelecer, como se estivesse do lado de fora da vida, a ditar quem são os “bons e piedosos” e quem são os “maus com fama de má vida”.
Nós conseguimos ter gente perita nestas artes… e Deus que é Deus está-se a “borrifar” para isso tudo.

Temos UM DEUS QUE COM O SEU AMOR NOS ESCANDALIZA ao ponto de aborrecer o Jonas que, às vezes, vive adormecido dentro de nós.
E porque os julgamentos do amor já nos fogem das mãos… vem o aborrecimento, vem o amuo, vem o desentendimento com alguém, o baixar os braços diante das situações que não se querem entender e esclarecer, vem o fechar-se num círculo fechado onde o ideal é que haja quem circule à volte e vá mimando e animando, apaparicando e circulando… e Jonas faz isto até com o Seu Deus. Quase quer tornar-se deus do seu Deus.

E Deus chega a perguntar-lhe: “Tens razão para estares irritado?”
… e Jonas responde mesmo…

Deus faz nascer um arbusto para fazer sombra na cabeça de Jonas.
O escritor parece dar a Deus uma atitude irónica ou até um bom e inteligente humor, como se fizesse Deus dizer: “Toma lá um pouco de sombra… a ver se descansas, se te refresca as ideias, e se pensas com mais calma se há razão para estares tão aborrecido a ponto de desejares morrer porque Eu Sou Bom.”

O problema é que parece que Jonas, mais uma vez, ali fica… e se deixa ficar…
Até que o arbusto seca…
Já passou da hora em que era preciso levantar-se de novo. Estava já tão acomodado… talvez demasiado acomodado, que já não encontra sentido para a vida sem o pobre arbusto.

E Deus pergunta-lhe de novo: “Tens razão para estares irritado?”
… e Jonas responde mesmo…
Há alguns… não muitos… anos atrás, qual seria a reacção de um pai de família diante de uma resposta assim tão torta do filho?
E temos aqui a belíssima intuição de um Deus que sentimos tão PAI, tão próximo, tão íntimo, tão paciente, tão compreensivo, tão amoroso, ao ponto de podermos ser filhos meio insolentes, absolutamente sinceros na demonstração das nossas birras, porque temos a certeza absoluta que não iremos sentir a Sua “mão pesada”.

Jonas apegou-se ao arbusto… apegou-se mesmo a uma “coisa”. Sentiu-lhe a falta quando este secou e morreu.
Jonas apega-se a um arbusto… e Deus apega-se a pessoas…

Bendito seja o nosso Deus… Benditos sejam aqueles que ao longo de todos os tempos foram intuindo e partilhando essas intuições dos traços do Rosto de Deus…
Que Deus Bom temos! Que Deus BOM!!!...
Um Deus capaz de nos chocar, de nos escandalizar por tanto amar.

Sempre que leio estas últimas linhas deste belíssimo livro, lembro-me de Jesus, o Yeshu, a contar uma parábola… a do proprietário que não se cansa de chamar e voltar a chamar e novamente chamar, ele mesmo em pessoa, a chamar Corações para colaborar no trabalho do campo semeado, que está pronto para a colheita… está pronto…
(Mt 20,1-16)
Aqueles que suportaram o calor de todo o dia recebem a mesma moeda que recebem aqueles que só colaboraram já quando estava a terminar o dia… que justiça é esta?
Diante da indignação dos primeiros, eis a resposta do proprietário: “… eu quero dar a este último tanto como a ti. Ou não me será permitido dispor dos meus bens como eu entender? Será que tens inveja por eu ser bom?”
Não é a justiça deste mundo… não é!!!...
Deus não sabe fazer contas… não sabe mesmo nada de contas, nem sequer conhece números… tenho a certeza absoluta disto!...

E o Yeshu… o Primeiro que é da nossa raça, é a perfeição plena de todo o nosso Jonas.
Ele é o Mensageiro da Paz de Deus que nunca recusou a missão que aos poucos foi descobrindo dentro de si. Assumiu-a a ponto de confiar em Deus, mesmo até à morte. Acreditou até ao sangue que Deus estava do lado dele, e que Ele haveria, de alguma maneira, o demonstrar a todos.

O Yeshu é aquele que dorme na barca, ainda que haja uma tempestade… sereno por confiar, não por querer demitir-se de viver, como insinuam os discípulos… Diante do grito assustado dos “marinheiros” deste barco vemos o Yeshu levantar-se e “falar” à tempestade que se levantava nos Corações assustados “Acalma-te! Sossega! Está tudo bem… serena! Confia!”
(Mc 4,35-41; Mt 8,23-27; Lc 8,22-25)
Pois…
… o Yeshu não suplica a misericórdia de Deus, do Abba… Ele fala com a tempestade que fazemos dentro de nós… e pede-nos para confiar, serenar… sossegar.
O Abba e o Seu Reino estão presentes, Jesus nazareno ressuscitado é a confirmação deste Dom imenso do nosso Deus que nos convidar a fazermos parte da Família dEle.

Eis o verdadeiro Rosto do nosso Deus… revelado pelo Mensageiro Ungido (Messias) que Deus ressuscitou.
Eis a lógica do Reino que este Deus nos dá gratuitamente.

“Enquanto os judeus pedem sinais e os gregos andam em busca da sabedoria, nós pregamos um Messias crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios. Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é poder e sabedoria de Deus.” 1Cor1,22-24








Espero que tenham gostado deste “passeio”
Um abraço grande para todos os que passam por aqui.

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