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Para ti que viveste com garra!...







Lembro-me sempre de ti, como quem tem um sonho bom.

“Longa viagem”… que jeito tão especial que alguém tão bonito me confidenciou… para falar desta ausência que sinto tua, agora, sem sentir.
As pessoas bonitas são assim, podem partir para uma “longa viagem” que parece que ficam cá “dentro” para sempre.

Queria dizer-te aqui que sempre te admirei. A garra com que sempre viveste, serenamente e ao mesmo tempo com tanta força…!
Nunca viraste as costas àquilo em que verdadeiramente acreditavas, e sempre vi o jeito incrivelmente corajoso com que te entregavas inteiramente ao teu Deus e tudo o que tem a ver com Ele.

Eu, que conheço a tua história, sei que passaram na tua vida muitas pessoas que te marcaram negativamente… foram raras as que te ajudaram a “crescer” e a ser mais.
É por isso que te admiro… porque, parece que houve um momento qualquer em que, do nada, Deus entrou na tua vida, encantado contigo, e tu nunca mais O largaste. Fizeste-te d’Ele até às fibras mais profundas do teu ser.
De maneiras absolutamente incríveis lá estava Ele, sempre, contigo. Nunca permitiu que ninguém te ferisse profundamente… magoaram-te, mas não cresceste com aquelas cicatrizes que se ganham nas lutas pela própria vida.

Isso via-se… de “fora”…
Eras serenidade que pacificava, e ao mesmo tempo força que contagiava… um sorriso belíssimo e tão vivo…

Nos lugares mais inesperados havia quem se sentasse ao teu lado e depois de te ler o olhar de alguma maneira “sintonizava” contigo sem precisar de mais nada… e começava a derramar o Coração com o que tinha de maior verdade dentro dele, de alegrias e tristezas, ou triunfos de vidas tão cheias de vida…
Tinhas mesmo qualquer coisa em ti que cativava… que atraía confiança.
Ficavas sempre sem jeito… e sem saber o que dizer até que chegaste a perceber que muitas vezes não era preciso dizer nada… só estar… só escutar, como quem acolhe nas mãos um pedaço do outro e o “mima” assim…
E depois do olhar abatido viam-se, em quem se encontrava contigo, forças novas para caminhar mais um pouco com mais coragem.

Eu sei que houve muitos dias cinzentos em que não sabias lidar muito bem com as tuas próprias coisas.
Oh… mas viver é assim, não é?!
Tantas vezes te ouvi dizer: “eheh… isto vai doer… ou, está a doer… mas depois passa… depois passa!”

Parecia-te quase sempre que respiravas só metade do ar.

Parecia-te que só te davas metade da oportunidade
Sentias muitas vezes culpa por “chorar”, quando isso só significava que te preocupavas.
Sentias, muitas vezes, culpa só por sentir, quando isso era só porque vivias intensamente, com profundidade.
Sentias muitas vezes que “sangravas” demasiado por alguma coisa, mas isso só significava que te tinhas magoado em nome de coisas muito importantes.

Querias tantas coisas, sonhaste tanto… tanto… apesar dos “muros” todos que sempre existiram à tua frente…
Esses momentos aconteciam em ti sempre como uma alavanca… pareciam aqueles momentos em que o Jonas lá de dentro de ti se sentava à sombra do rícino, ou no fundo do barco… e o teu Deus te dizia:
“Levanta-te… conto contigo…
… mas, se calhar, não da maneira que esperas…”
E levantavas-te, sim, mais forte do que nunca. E com garra…!

Querias sempre ser mais. Querias “crescer” sem fazer barulho… como fazem as árvores.
Querias sempre ser mais, para que outros fossem mais.

Ainda a juventude vibrava em ti, e colocaram-te nas mãos o teu maior sonho a moldar-se… envelheceste, rejuvenescendo dentro de ti ao tornar cada vez mais vivo e real esse sonho. Nunca mais estiveste só desde este momento.
Poucas pessoas conheço que precisem de silêncio e solidão como tu precisaste… era como quem precisava de ar para respirar… de água para beber… de caminhos para correr…
Mas esta solidão que nunca mais viveste foi a da Comunhão construída entre o sonho daquilo em que acreditavas e pelo qual eras capaz de te entregar inteiramente… e a sua concretização… no anúncio da Família-Reino do Abba que já chegou para todos.
Deus, pegou nas tuas mãos e assim, nas vidas de tantos, e de infernos feridos fez muitos “Céus” felizes e verdadeiros, contagiantes da liberdade que Deus ama e deseja para todos.
Através do teu olhar, o teu Deus, ajudou a muitos a “ver” bem, com esperança, verdade… amor comungado…

Confidenciaste-me que existiu alguém muito importante na tua vida, que te amou como ninguém, com quem formaste Corpo, com tal profundidade… que antes nem sabias ser possível. Tenho a certeza que esse alguém te vai levar sempre para onde quer que vá… até se encontrar contigo, depois de um “até já” único e irrepetível.

Foi muito importante para mim o privilégio de te ter conhecido assim, tão tão de perto. És uma pessoa única rara…
Os teus muitos anos nunca te pesaram… pegaste neles e foste-te tornando cada vez mais simples, como as crianças felizes e repletas de gratuidade… de graça… encantadas com cada cor que descobrem, com cada aroma que saboreiam…

Tenho a certeza que és muito feliz agora… alguma coisa de ti vive em mim e em todos aqueles que tanto amaste e a quem entregaste o melhor de ti… aqueles que não te acolheram ou até te rejeitaram são apenas sinal de que o Reino ainda não chegou a todos os Corações… e é preciso continuar a criar laços pelas mãos da Ruah.

Quando nos encontrarmos novamente, aí na “mesa do Banquete”, aí é que vai ser festa que nunca mais acaba, como sempre falámos que iria ser, lembras-te?…
Ou não… não é nada disto, pois não? É muito muito muito muito mais… muito mais.

Morreste… porque viveste…
Vives em quem te ama apesar de já teres partido
Esta música que aqui deixo é para ti. E as “pérolas” felizes também…
Agradeço-te MUITO por teres sido quem foste.

Amei-te… amo-te…
Até já…. até já…

5 comentários:

Anónimo disse...

Considero estes exemplos uma boa lição de vida!
Ajuda-nos a alcançar horizontes mais alargados!...

Obrigada Anawim por esta partilha!

Um grande abraço!

Anónimo disse...

Verdade, Anawin, que não podemos dizer senão "até já", a alguém que passou para "o lado de lá da Vida" e que,do lado de cá, foi capaz de gestos de Amor gratuito...se encantou e foi capaz de mergulhar nas profundezas de um outro olhar e com ele fazer comunhão...não se envergonhou de chorar ouvindo uma peça de música ou vendo uma tela de Van Gogh...não receou entrar no mais fundo de si para tentar "perceber" a ânsia de Eternidade que a todos,sem excepção , desafia permanentemente...não teve medo de se "perder" vivendo "diferente"...não se cansou de ter dúvidas... de fazer perguntas...de procurar respostas...Onde e quando é a Vida Eterna, Anawin?

Anawîm disse...

Mila... pois é... pois é
Um abração enorme para ti!


Figlo...
Pois... "Onde e quando é a Vida Eterna...?"
... eu queria tanto já vivê-la mesmo a sério, assim do mesmo jeito com que acredito que já começou antes do aqui e agora... mas, parece-me mais que às vezes nos é dada, gratuitamente, a cada instante, a oportunidade de ir mergulhando ou não, em Eternidade, a verdade do que vamos vivendo em profundidade, em Comunhão... sim
... e vamos descobrindo, como dizes tão bem, que só o Amor gratuito é o Tempo e o Lugar genuíno desse Eterno Colo do Abba...
Agradeço-te muito por ti...
Um abraço forte, forte...

Anónimo disse...

Hoje partiu para o Pai, alguém que me era muito querido. Fica um vazio difícil de suportar. Ler o texto que escreveu ajuda-me a viver este momento com mais serenidade.
Bem haja!

Anawîm disse...

São momentos em que as palavras são sempre poucas e sempre demais ao mesmo tempo...

Estou contigo... aceita um abraço muito forte meu... Coragem!