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Era uma vez na terra dos sem-rosto


Era uma vez…
Era uma vez, num país distante, a terra dos sem-rosto.

Todos os que viviam nesta terra, nunca se puseram a caminho na aventura de ter um rosto, viviam assim, sem rosto.

Para se viver nesta terra era preciso cumprir, com exemplar rigor, um determinado número de regras.
A maior delas talvez fosse a de ser absolutamente proibido ser feliz.
A felicidade era vista como uma ameaça a alguma coisa que não se sabia bem o que era… nem isso importava para nada, o importante era fazer tudo por tudo para não estar em nenhuma situação de ameaça provável de ser feliz, fosse ela qual fosse.
Ser feliz era como ter uma doença contagiosa e fatal.

E bem se via que, nesta terra, quem se decidia e fazia tudo por tudo para não sorrir, conseguia não ter rosto.

Nesta terra reinava o temível Rei Medo. Ele conseguia dominar todos os habitantes da terra dos sem-rosto, impedindo-os de avançar em qualquer decisão que implicasse algum risco… fosse ele qual fosse.
O Rei Medo visitava o sono de todos os seus súbditos, fazendo-os duvidar a toda a hora de todas as suas decisões… e se estariam a cumprir à risca a maior regra, essa de fugir da alegria com todas as forças.
Decidir-se… Arriscar-se… Atirar-se de cabeça por algum ideal, ou em nome de Alguém era como ter uma doença contagiosa e fatal.

E bem se via que, nesta terra, quem se decidia a nada arriscar, conseguia não ter rosto.

Outra das regras fundamentais era ter a certeza absoluta que os próprios problemas que enfrentavam eram os maiores do universo. Cada um dos sem-rosto era único a cumprir esta regra, mas todos conseguiam fazê-lo com grande perfeição. Tinham uma coisa em comum… é que as dificuldades dos outros eram sempre muito mais pequenas e facilmente ultrapassáveis.

E bem se via que, nesta terra, quem se recusava a ter os ouvidos atentos ao outro, e a assumir verdadeiramente que ninguém mais tinha problemas, preocupações e medos em tamanho tão gigantesco como cada um dos sem-rosto sentia, conseguiam não ter rosto.

Um dia, passou por aqueles lados, um tal de nazareno… um tipo estranho.
Ele era tão diferente… ele tinha rosto.
Estava minado daquelas “doenças” terríveis porque era alegre, decidido, arriscava e atirava-se de cabeça em nome de Alguém, mesmo sem saber no que é que as suas decisões iriam dar. Tinha os ouvidos atentos a todos os curvados como estes, os da terra de gente sem-rosto, entre outros, e ainda hoje se ouve dizer que ele, de rosto sereno cheio de uma expressão muito viva, fala com cada um deles dizendo:
“Vem comigo…!
Quero contagiar-te de alegria, de coragem, de disponibilidade. Quero dar-te os meus olhos, a minha boca, os meus ouvidos, as minhas mãos e os meus pés. Quero que vivas comigo, de mim… E quero apresentar-te um Pai que te ama mas que só podes ver com a minha alegria, a minha coragem, a minha disponibilidade… os meus olhos...
Vens?”




Diz-se, por aí, que ainda hoje muitos dos que escutam este nazareno… alguns vão com ele… mas outros preferem continuar na terra dos sem-rosto, escravos do Rei Medo.

3 comentários:

Ni disse...

Oh Anawîm... sabes, às vezes acho que estes sem rosto se defendem assim... a não ter olhos para negar a Luz, sem nariz para nem cheirar o acordar da vida a cada dia... sem ouvidos para não ter medo de sentir o doce toque das palavras... e sem boca para não ousar barafustar com o medo.
Deus conquistou-te mesmo. Sinto que Lhe dás a mão, o coração e a alma quando te convida... e partilhas a alegria com todos os que te lêem e sentem. Vê-se a coragem e a disponibilidade em cada gesto. És bonito... tens no rosto os traços do coração que Ele habita.

Vou contar-te um segredo.
Fechei os olhos e tacteei o meu rosto. Existe. Vai ganhando algumas feições à medida que me entrego nas Suas mãos.

Abraço forte...

Obrigada!

Ana Ascensão disse...

Gostei muito Anawim :)

Acho que posso dizer que possuo algumas dessas doenças... e que feliz :)

Obrigada

Uma beijoca

Anawîm disse...

Ni...
Não te vejo o rosto, mas no teu Coração... ui, nesse os traços d'Ele podem sentir-se já profundos.
Um abração grande para ti

Ana...
Estás mesmo irremediavelmente "doente"
AHAHAHAH
QUE BOM!
Um abraço grande grande...