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0 - Porque não soubeste esperar... des-esperaste... Judas, que és 30

«Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde vivia Lázaro, que ele tinha ressuscitado dos mortos.
Ofereceram-lhe lá um jantar.
Marta servia e Lázaro era um dos que estavam com Ele à mesa.
Então, Maria ungiu os pés de Jesus com uma libra de perfume de nardo puro, de alto preço, e enxugou-lhos com os seus cabelos. A casa encheu-se com a fragrância do perfume.
Nessa altura disse um dos discípulos, Judas Iscariotes, aquele que havia de o entregar: “Porque é que não se vendeu este perfume por trezentos denários, para os dar aos pobres?” Ele, porém, disse isto, não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão e, como tinha a bolsa do dinheiro, tirava o que nela se deitava.
Então, Jesus disse: “Deixa que ela o tenha guardado para o dia da minha sepultura! De facto, os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim não me tendes sempre.”
Um grande número de judeus, ao saber que ele estava ali veio, não só por causa de Jesus, mas também para verem Lázaro, que ele tinha ressuscitado dos mortos. Os sumos-sacerdotes decidiram dar a morte também a Lázaro, porque muitos judeus, por causa dele, os abandonavam e passavam a crer em Jesus.»

Jo 12,1-10


Beth-anî… (Casa do Pobre)… foi em tua casa que o vi falar dos pobres.
Ela derramou sobre os pés do nosso Moreh Jesus… o nosso Mestre de vida… aquele aroma de nardo puro, também Rute se havia perfumado, e se havia deitado sob o manto com que Booz cobria os seus pés. (Rt 3,3-5)
Dava vontade de seguir os passos do Mestre, em busca daquele forte e suave aroma que levava no seu passo firme.
A cabeça dela recebeu aquela mesma unção, quando quis enxugar-lhe os pés com os seus longos cabelos… uma mulher a receber tal unção… nem imaginávamos, no momento, o que isso poderia significar senão depois.

Beth-anî… a tua casa encheu-se com o perfume que ele levava no seu passo, e a unção que ela levava na cabeça.
Marta servia, e Lázaro, o que estava renascido, estava à mesa com o nosso Mestre, e nós também. E mais uma vez o banquete. O Banquete era, para o nosso Mestre, um sinal tão importante… esse estarmos todos sentados à mesa… o lugar da festa, da alegria, da comunhão onde todos têm lugar, onde todos comem do mesmo prato e bebem do mesmo vinho.



Entre nós estavas… estás… Judas
Judas o teu nome diz-te… diz o que és, diz-te 30.
Sempre te vi afastado de nós. Parecia que fazias questão de, muitas vezes, não te dizeres um de nós… éramos para ti uns pobres ignorantes, uns quantos pescadores e uns outros quantos traidores como cobradores de impostos ao nosso povo. Todos mudámos de vida, todos mudámos de nome… só tu quiseste permanecer com o teu nome… 30.
Quem era o nosso Mestre, para ti, senão alguém meio analfabeto, mas com muito jeito para reunir multidões? Quantas vezes nos disseste que ele era perfeito para a causa da restauração do povo, mas só por aí, por atrair muitos a si…?
Multidões… Multidões… só com elas te alegravas, porque nelas te perdias e te encontravas sozinho. Vi-te connosco, mas nunca senti connosco. Não paravas de murmurar de nós… do Mestre… do que dizia, para onde ía, com quem falava… achavas sempre que eras tu o maior, tu é que sabias sempre tudo o que haveria de ser ou não ser. E depois amuavas quando nenhum de nós te dava ouvidos… como um menino de peito faz birra e se afasta.
Judas… querias tu ensinar o nosso Mestre de vida a salvar o nosso povo? Querias?
Judas… eras culto no meio de nós, sabias ler e escrever… e de que te valia isso, se não sabias ser fiel na comunhão connosco?
Judas… sempre te vi só, contigo próprio a murmurar contra tudo e contra todos… Tornaste-te fechado dentro de ti mesmo, como uma ostra envenenada.
Não percebeste o tesouro que leva em si o entendimento da semente que precisa de morrer para germinar… e como tudo isso leva tempo, os tempos que são só de Deus
Porque não soubeste esperar… des-esperaste… e preferiste vender-te, tu que te chamas 30, por trinta moedas, entregando a tua Vida… entregando o nosso Mestre… pelo preço de um escravo.

Muda de nome dentro de ti… nasce de novo, das “entranhas” do Alto. Nasce de Deus!

Ainda te vejo hoje deambular por tantas ruas, e dentro de tantas casas… fazes-te filho da divisão, da discórdia, da desunião, vejo-te bem porque o que se colhe da tua presença é um clima de aridez nas palavras, ressentimento no mais íntimo, rispidez nos gestos… continuas a pensar que é à força de braços e de umas quaisquer conquistas tuas que hás-de fazer chegar o Reino… e ainda não aprendeste, em 2000 anos, a esperar que seja o Mestre a levar adiante as coisas como só ele intui, como só ele sente, como só ele o ora, o conversa com o Abba.

Ainda não aprendeste?

Não são as tuas forças, nem os teus muitos saberes, que conquistam o Reino da Família de Deus… o Reino é puro Dom que se acolhe mais ainda do que se constrói, com irmãos, como quem espera amorosamente que a semente germine e cresça.
E tanto te queria dizer… tanto… mas calo-me diante do mistério que é este nosso Deus e o Seu Reino/Família que só Ele torna nosso/a

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