Pages

4 - "... quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome."


Nos escritos que revelam a reflexão feita por comunidades de discípulos de Jesus e do Reino de Deus, também encontramos o número quarenta.

Na Boa Notícia de Jesus escrita segundo Mateus encontramos o relato do Baptismo de Jesus por João Baptista, significando que Jesus terá aderido, de algum modo, à mensagem de João, e depois:
“Então, o Espírito conduziu Jesus ao deserto, a fim de ser tentado pelo diabo. Jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome.” Mt 4,1-2

“… e, por fim, teve fome.” Sentiu talvez a “fome” que todos nós sentimos… as fomes que mais se manifestam em nós, e de modo tão especial em alguém que esperam ser o Messias, mais ao jeito da Humanidade, e menos ao jeito do próprio Deus que o elege para salvar.
É a “fome” de possuir muitos bens, que causa divisão.
É a “fome” da fama e popularidade, que causa divisão.
É a “fome” do poder e soberania e prestígio, que causa divisão.
E de tantas maneiras estas fomes se apresentaram na vida de Jesus.

Mais do que um “treino” para as dificuldades que vão surgindo, este tempo simboliza a abertura disponível a um tempo novo, a uma vida nova. E Jesus terá tido quarenta longos dias ao longo de toda a sua vida com este sabor.
Podemos dizer que estes quarenta dias, tal como é simbolizado na cultura deste povo, é dar espaço, dentro da própria vida, para que algo de novo aconteça, para que Alguém o seja e aconteça na nossa vida.

- No relato do dilúvio não se fala somente de um castigo de Deus ao jeito do pensamento da altura, mas mais na vontade que Deus tem de recriar a Humanidade connosco.
Quarenta dias para que a Humanidade mergulhe nas águas do dilúvio, para que renasça para uma vida nova.

Quem é Jesus, aquele que sendo um de nós, morreu e foi depois ressuscitado por Deus, senão a perfeição de um novo Noé, com quem Deus mergulha a Humanidade nas águas de um Dilúvio abundante do Espírito de Fogo e a faz renascer?

- Quarenta anos de caminhada que se inicia com a libertação da escravidão do Egipto, para renascer numa vida nova numa terra da qual tomam posse por vontade de Deus.
Quem é Jesus, aquele que sendo um de nós, morreu e foi depois ressuscitado por Deus, senão a perfeição de um novo Moisés, com quem Deus nos liberta de todo e qualquer Egipto das nossas vidas, e vai à frente a caminhar connosco esses quarenta anos que são toda a nossa vida?

- Quarenta dias e quarenta noites em que Moisés conversa com Deus e se prepara para acolher a Lei (uma Lei frágil, inconsistente porque é quebrável), para que na sua fidelidade o povo renasça para uma vida nova.
Quem é Jesus, aquele que sendo um de nós, morreu e foi depois ressuscitado por Deus, senão a perfeição de um novo Moisés, com quem Deus conversa intimamente, e a quem entrega o anúncio da lei nova inscrita pelo Espírito nas “tábuas” do Coração da Humanidade… essa lei do amor que não é frágil e quebrável mas forte e invencível como só o é o amor?

- Quarenta dias para explorar a terra de Canaã, um tempo para renascer numa vida nova conhecendo o dom, o presente de Deus, a oportunidade de começar uma vida nova, numa nova terra.
Quem é Jesus, aquele que sendo um de nós, morreu e foi depois ressuscitado por Deus, senão a perfeição daquele que recebeu o mandato de entrar na terra, no dom da vida nova, para nos oferecer um pouco do sabor que tem essa vida eterna?

- Quarenta anos do reinado de David, em que David se entregou todo, umas vezes fiel outras infiel. É um reinado que prepara grandes coisas… é desta “casa”, é no meio deste povo, que nascerá o Messias.
- Quarenta anos do reinado de Salomão, em que Salomão se entregou todo também, umas vezes fiel outras infiel. É mais um reinado que prepara grandes coisas… continua a ser desta “casa”, do meio deste povo, que nascerá o Messias.

Quem é Jesus, aquele que sendo um de nós, morreu e foi depois ressuscitado por Deus, senão a perfeição de um valoroso novo rei David e de um novo sábio rei Salomão… absolutamente fiel ao seu Deus, e por isso um rei não ao jeito triunfalista deste mundo, mas ao jeito do Reino-Família de Deus-Pai?

- Quarenta dias e quarenta noites andou Elias, o primeiro grande profeta de Israel, até chegar ao Horeb, o monte de Deus, para saber acolhê-l’O à Sua passagem.
Quem é Jesus, aquele que sendo um de nós, morreu e foi depois ressuscitado por Deus, senão a perfeição de um novo profeta Elias, por cuja vida Deus passa, não de forma estrondosa, mas na brisa suave, tantas vezes calada, e em momentos em que só a fé faz acreditar e ganhar coragem para avançar sem saber no que tudo vai dar, absolutamente fiel?

- Quarenta dias foi o tempo que Jonas anunciou a Nínive, em nome de Deus, era um prazo para que os seus habitantes mudassem de vida. E eles renasceram para uma vida nova, alegres com o Deus bom que Se compadeceu deles.
Quem é Jesus, aquele que sendo um de nós, morreu e foi depois ressuscitado por Deus, senão a perfeição de um novo Jonas, que anuncia a Boa Notícia de um Deus que é Pai, e anuncia a Casa que Ele tem preparada para todos, e as vestes e o calçado que tem preparados e com o qual nos vestirá a cada um, e o grande banquete a cuja mesa o próprio Deus Se cingirá e servirá a todos?

3 comentários:

Anónimo disse...

Amigo , é muito profundo ...não ?
senti algo assim , quando portas se abriram à eternidade ,para ALGUÉM que ficou 41 dias na UTI , e durante esse tempo disse ter " o maior AMOR por Mim -Filha "
em lágrimas Te digo...é muito profundo ...,foi como que tivesse completado os 40 dias de deserto , para partir....
Verdadeiramente...vivenciado...
Obrg. e fr. abç.

Rui Santiago cssr disse...

Esta reflexão é uma das coisas mais bonitas que eu li nos últimos tempos...

Muito Obrigado , Anawim!

Maria João disse...

A Quaresma é mesmo um tempo muito belo ...

Já me aconteceu jejuar de um determinado vício durante este período. Foi a cura. Graças a Deus!



Unidos em oração