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Outro ponto de vista



Quando iremos nós mergulhar, mesmo a sério, na nossa própria vida, não aquela que gostariamos de ter, mas exactamente aquela que temos entre as mãos...?
Tantas coisas há a descobrir, e com as quais nos encantaremos nesse mergulho tão arriscado!...



Era uma vez um homem que viveu absolutamente mergulhado dentro da própria vida, mergulhado na própria vida do Pai dele
Era uma vez um homem chamado Yeoshua bar Yeoshua, Jesus filho de José. Yeshuah ha Natsri, Jesus o de Nazaré.
Era uma vez uma vida real, um filho da minha Humanidade, um do que eu sou.
Chamavam-no, os mais próximos, de Yeshu.

Viveu em Nazaré a maior parte da sua vida. Um povoado pequeno, longe das grandes cidades. Um lugar verdejante, comparável às nossas aldeias, com hortas, galinhas à solta, rebanhos que seguiam o seu pastor, campos em que semeava trigo, lobos e cobras na mata, flores nos montes, chuva fria e o calor do sol nas suas épocas.

A casa onde viveu fazia parte, talvez, de um conjunto de casas em volta de um pátio comum onde todos eram praticamente familiares. Haveria muitas crianças da mesma idade com quem brincava.

Trabalhou num ofício que talvez o tenha feito andar de povoado em povoado em busca de trabalho. Contactou, por isso, com muitas pessoas de vários povoados e várias culturas desde cedo.

Não formou família casando-se e tendo filhos. Muito depois da idade habitual em que os jovens se decidem a casar, por volta talvez dos 30 anos, conheceu João Baptista.

Fez-se baptizar por João, o que quer dizer que aderiu à mensagem dele e tê-lo-á seguido como discípulo.

Foi, ao longo da sua vida, descobrindo dentro de si a sua missão. E sentindo cada vez mais a urgência de anunciar o Reino de Deus, e o Deus deste Reino já presente, já a libertar, já a consagrar, já a fazer começar a viver a plenitude de uma vida que já começou, como uma semente que já foi lançada à terra e é preciso esperar que germine e cresça.

Chamou discípulos para anunciar esta mesma urgência da emergência do Reino

O Yeshu não jejuava e não se preocupava com todos os rituais rigorosamente seguidos no sul do seu país, nem ele nem os seus discípulos. A presença do Reino era para ele motivo de festa e alegria antecipada e por isso dava muita importância ao sentar-se à mesa, com todos, tanto com fariseus fiéis cumpridores da Lei de Moisés, como com publicanos que eram considerados pecadores públicos... e não se calava diante da injustiça e desamor, nem se calava diante das demonstrações de fé e esperança do seu povo.

O Yeshu gostava de, antes ainda do sol se levantar no horizonte, subir ao alto de um monte qualquer e ali ficar a ver a noite fazer-se dia e sentir-se sob o olhar do Pai dele... e conversava com o Pai

Curava, ensinava, e enviava discípulos para curar, ensinar e enviar também

Sentia-se verdadeiramente um filho diante de Deus, esse Deus que de tantas maneiras sentiu demonstrar-se como um Pai a todo o seu povo.

o Yeshu denunciava tudo aquilo que não deixava o ser humano ser verdadeiramente pessoa.

Os seus discípulos começaram a pensar que seria ele o messias esperado pelo povo, que libertaria o povo da opressão e de todos os males e que reinaria gloriosamente como tinha reinado o rei David.

Foi acusado de blasfémia, pelas máximas autoridades religiosas do seu povo por se dizer filho de Deus... usaram o argumento de que se dizia "rei dos judeus" para que os romanos executassem a sentença de morte.

Foi então assassinado assim.

Foi grande a desilusão dos seus discípulos... foi tal a desilusão que todos eles tiveram vergonha do seu próprio mestre falhado, fracassado, vencido, e por isso fugiram envergonhados

Três dias depois, aqueles que o seguiram de perto, mostraram-se a falar com intrepidez tal que a todos espantavam, anunciavam que aquele a quem os grandes religiosos tinham assassinado, Deus estava do lado dele porque o levantou de novo, da morte, ergueu-o, chamou-o de novo, suscitou-o outra vez.

Que Coração vivo e tão aberto é o deste Yeshu, com tal capacidade de criar ritmos positivos em toda a sua existência, com tal capacidade de acolher a todos os que têm fome de Deus...
... que me chegou até hoje, e ME TOCA e me faz participar dessa família de tantos!

"Quem é este homem?"

2 comentários:

figlo disse...

"Quem é este Homem?" que ainda hoje nos faz querer viver em comunidades onde nos possamos interrogar e pôr em comum a vida e o mistério do homem, do mundo e de Deus...comunidades onde a Fé se experiencie e onde à volta da Mesa só haja Verdade porque na Paz que desejamos uns aos outros não há "vencedores nem vencidos"... Comunidades onde o Amor e a Justiça prevaleçam à Lei...Mas, como dizia Alçada Baptista em 1971 " continuamos a aumentar o PIB, a poluir, a matar e a "ir à missa ao Domingo", a fazer pobres e a dar-lhes esmola, a viver na angústia e a morrer na solidão. Talvez a tudo isto eu me habitue, e esse será o dia da minha morte verdadeira"!
Nenhum de nós se quer habituar a isto, pois não!?E o Tempo Pascal em que acabamos de entrar é o tempo propício ao desassocego...Um abraço Glória

Anawîm disse...

Um grande abraço, Glória!
Estou muito contigo no que sentes.