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“ (…) Nas cinzas das encruzilhadas das palavras,
apenas se sente a verdade da sua leveza
que no vento são atiradas aos ares, empreendendo um voo sem retorno.
Em todas essas palavras, que outrora construíram castelos de ideias
e formas roubadas na origem da palavra,
o evangelho foi deturpado e vendido aos mercadores da salvação dos homens!

Dirás, ou sentirás habitar neste barro um coração rude e ferido!
Quem poderá dizer que não sentiu a dor na alma
ao ser elevado até perto do Rosto do Pai
e receber a carícia das Suas mãos feridas pelos ódios dos homens?
Descrever a rudeza da pele das Suas mãos,
só abraçando o barro como o Oleiro,
talvez aí consigas perceber a sensação do amassar eterno!

Todos recordam o fogo ou a madeira que o alimentou.
Mas, alguma vez algum de nós,
guardou alguma gratidão pelas cinzas que ali ficam,
desprezadas e esquecidas,
esperando talvez um fim mais feliz?

Talvez, quem sabe, talvez sejam recolhidas
pelas mãos do lavrador que as lançará à terra,
para que ainda, na sua morte, possam dar vida aos solos
que irão produzir o fruto que irá alimentar outra vida!

Inquieta reconhecer ao olhar as cinzas,
inquieta descobrir que ali está um resto de uma vida:
a árvore robusta,
a beleza da flor que se extinguiu num gesto de doação,
doação aos homens, à natureza,
até ao altar que adornou e embelezou,
aproximando assim mais os homens de um Deus desconhecido,
mas que fica mais próximo e igual aos homens,
porque esta doação, os une ao eliminar o vazio da distância
entre a matéria e o Criador que nela nos é revelado.

Muitos gostariam de acolher as suas próprias cinzas
nas vaidades dos seus sepulcros mandados por si construir,
procurando talvez perpetuar a efemeridade dos seus gestos,
engrandecidos nos caminhos das suas lutas e conquistas terrenas.
Outros, buscam nos mergulhos dos oceanos,
esconder as cinzas, que são a marca da sua passagem pelo tempo.

Nem ali, onde se unem o pó com o pó,
os homens conseguem compreender a efemeridade da força humana;
a inutilidade das palavras que não nasceram num espaço livre;
por isso, ainda tentam aprisionar
aquilo que lhes formou a morada da alma,
mas que agora já não lhes pertence, porque voltou às origens!
(…)”



Irmão Silêncio

3 comentários:

Ana Loura disse...

Lindo este texto, como todos os outros do nosso querido Irmão Silencio. Fico feliz que tenhas tido acesso, são tesouros a serem partilhados apesar da recomendação feita de não os publicarmos. Assim o temos feito, acatando a vontade expressa.

Estou confusa, muito, com o afastamento voluntário do Victor e apenas queria entender pois houve uma entrega de testemunho por parte do Irmão Silencio que agora foi abandonado nos caminhos menos claros. Aliás este abandono foi gradual desde há dois anos, mas aceitei devido à carga de trabalho na Paróquia e na procura da realização do sonho maior da Fraternidade, apesar de precisar de escoras, de ajuda espiritual, de fortalecer a minha Fé jóvem, de pouco mais de cinco anos. Agora romperam-se os laços. Os meus passos são inseguros, as minhas palavras titubeantes e agora estou abandonada. A direcção Espiritual requer proximidade, empenhamento, constância...

Que se passa??? O que posso, ainda, fazer para amparar e ser amparada. Onde falhei na parte que me tocava? Nada foi dito, apenas uma porta foi trancada às sete chaves

Mesmo assim, FIAT

Amen

Anawîm disse...

Caríssima "lua dos açores", alma amada por Deus,
este excerto de um texto do Irmão Silêncio é belíssimo, sim, hoje diz-me muito... e tive acesso a ele, como tem acesso qualquer pessoa que navegue um pouco pela internet... pois aí o encontrei... Quanto a vontades expressas, obviamente as desconheço, uma vez que nunca conheci este bendito e santo Irmão...

A confusão no teu espírito...? alma que és amada por Deus, deixa-me dizer-te o que já me disseram também noutras ocasiões... se o teu espírito está perturbado, então ajoelha e pede ao Senhor da Luz que te ilumine no caminho... se precisas de orientação espiritual, então procura um pai ou uma mãe espiritual que acolha o teu coração e o conduza pelos caminhos do Pai... não pares em ti, caminha, avança, e o olhar para trás será somente caso a tua consciência te acuse de algum Não-Amor que possas ter provocado, ou se não te empenhaste verdadeiramente na construção do Amor, ou não estiveste atenta à mão estendida da súplica do pobre ferido no caminho, se de algo te acusa a consciência, pede perdão, libertando-te do jugo escravizante do~Não-Amor, e avança, aprendendo com isso a caminhar em frente, com a fortaleza das faltas superadas...
mas se de nada te acusa o espírito, então, menina, ergue a cabeça e toma o caminho, procura quem te possa ajudar a caminhar e avança sem medos...

Quanto ao Ir. Victor, pouco te saberei dizer, uma vez que dele só conheço, desde há 3 ou 4 meses, os textos que vai publicando... e, de facto, o meu coração espantou-se com a súbita aparição desta comunidade que desconhecia ainda há pouco tempo atrás, da qual não vejo os seus membros intervirem (à excepção de uma única pessoa que o acompanha regularmente) em algum tipo de comentário feito às partilhas que este santo Irmão vai fazendo, e eu, confesso ter incentivado, (desconhecendo a presença desta comunidade) pois pressenti nos seus escritos, além de uma pessoa sensata, coerente, a caminho, buscando o próprio caminho da Vontade do Pai, vi também, sobretudo, o grito de um profundo sofrimento e profunda solidão patente, bem claramente, nestes escritos, certamente acessiveis a todos os que quisessem ler... e mais não sei dizer porque, certamente a "lua dos açores" conhecerá melhor, este Irmão santo, do que eu, que nunca o vi, de quem nunca ouvi a voz, com quem nunca dialoguei especialmente, a não ser o que está à vista de todos, nos comentários que até deixam transparecer, muitas vezes, a explicação de algum poema de mais difícil leitura, sim, porque este andarilho é um poeta do Amor de Deus, que escreve belissimamente a dolorosa entrega radical que faz de si próprio, a Deus, e por Deus à Humanidade... a prova disso são as pessoas que começam a frequentar, a apreciar e a comentar o que vai escrevendo...

Acerca deste assunto, nada mais tenho a dizer, nada sabendo aprofundadamente, entendendo que os assuntos de "família" em família deverão ser analisados, amados e tratados, sob o olhar do nosso Deus-Amor... Perdoa-me, mas, ainda que possas voltar a falar neste doloroso assunto aqui, neste espaço, nada mais terei a dizer... tudo guardarei, evidentemente, e levarei comigo à oração, sempre, sempre, se a minha pobre oração valer para alguma coisa.

alma amada por Deus, lembras-te do comentário que fiz acerca da parábola do bom samaritano...?quando uma alma pede socorro, na maior verdade de si própria, grita: "Socorro... ajuda-me a ver o caminho"...
não compreendo outras formas de pedido de socorro, como: "Estou aqui à espera, porque não vieste ajudar-me quando precisei de ti, embora não to pedisse?"
Reflecte nisto e ajoelha, menina de Deus... o Pai nunca, nunca abandona o que confiam n'Ele e n'Ele esperam...

Mais uma vez, confia que levo, bem dentro de mim, todas essa inquietações, as colocarei nas Mãos Amantes Fortes e Poderosas do nosso Amado Pai, que é o Único que tudo pode...

Abraço imensamente todos os teus anseios e inquietações

Ana Loura disse...

Obrigada, alma que abraço no Pai, obrigada de toda a minha alma. Nada mais tenho, também, a dizer, apenas a pedir, que o Pai de bondade encontre sempre mãos para o amparo. Que a Trindade Santa te abençoe sempre.