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3... Yeshuah, onde cresceste?...



Não podemos saber muito bem se Yeshuah, em pequeno, terá frequentado alguma escola ligada à Sinagoga. Numa povoação tão pequena e insignificante como Nazaré, as pessoas tinham uma grande capacidade para memorizar cantos, orações e tradições populares transmitidas de pais para filhos. É uma cultura em que é possível ser sábio sem precisar de saber ler ou escrever.

Durante os seus primeiros 7 ou 8 anos foi a sua mãe e as mulheres do mesmo grupo familiar que o ensinaram nas tradições e fé do seu povo.
Habitualmente as casas davam para um pátio comum, compartilhado por três ou quatro famílias do mesmo grupo. Num espaço assim não há segredos para ninguém. Partilham o mesmo moinho para a farinha e o forno onde cozem o pão.

As crianças destes grupos de famílias brincam sempre juntas. À noite os homens contavam histórias, transmitindo assim a tradição. Depois, toda a família dormia no único piso, térreo, somente de terra batida, com os animais, sob tectos feitos de folhagens secas e argila, com paredes de pedra.

Ao amanhecer, Yeshuah terá visto muitas vezes a mãe e as outras mulheres levantar-se para fazer o pão, levando com elas um pedaço de fermento
Terá visto as mulheres a remendar a roupa sem usar remendo novo em tecido velho
Terá observado as tarefas na altura da colheita e como se ajudavam entre si.
Sabia como era preciso procurar sulcar a terra em linha recta, olhando sempre em frente e nunca para trás.
Observou como nem sempre as colheitas eram abundantes.
Viu como era difícil separar o trigo do joio.
Ter-lhe-ão pedido, talvez muitas vezes, à noite, para colocar a candeia no melhor lugar que pudesse iluminar toda a casa.

Quando, mais tarde, percorrer toda a Galileia falando do Abba, da notícia boa do Reino, é disto que falará… é de dentro da vida, estando ele mesmo dentro dela, que explicará as coisas mais importantes da vida. É com a vida que ele mesmo saboreia, que fala em abundância, e nunca com discursos teológicos, e nunca em outras línguas que o povo não entendesse. Era em aramaico que falava… a língua do povo, e talvez nem conhecesse outra.

Nazaré era um lugar belíssimo, retirado no meio de uma paisagem muito verde e rodeada de montanhas.
Havia terraços construídos para o cultivo das videiras de uva negra.
Havia oliveiras, figueiras… nos campos semeava-se trigo, cevada e milho e nos terrenos mais férteis cultivavam-se as hortaliças.
Havia galinhas, pombas, cães, flores nos campos e muitos pássaros, havia serpentes no mato.

Nazaré teria entre 200 a 400 habitantes.
Foi aqui que Yeshuah nasceu, foi aqui que Yeshuah cresceu, e cresceu com um olhar muito esperto, atento, muito vivo em relação a tudo o que acontecia na aldeia.
Para entender o que ele há-de dizer, quando andar pela Galileia, é preciso estar verdadeiramente sintonizado com a vida, a Criação… é aí que está e se revela o Abba e a notícia boa do Reino.

Vivia-se um tempo em que a família tinha uma importância vital.
Era o lugar do nascimento, era a escola de vida, era a garantia de trabalho e subsistência, era a garantia de protecção e zelo pela honra da própria família.
Na família a autoridade patriarcal dominava tudo. Ao pai era devida a obediência e a lealdade, era ele quem organizava o trabalho e definia os direitos e deveres.
Decidia também sobre o destino das filhas, que poderia vender como escravas para pagamento de dívidas, ou então negociava o seu casamento tendo em conta os interesses e a honra da família.
A mulher era apreciada somente pela sua fecundidade e pelo contributo do seu trabalho no lar. Criava os filhos e ocupava-se das tarefas domésticas, em tudo isto somente as mulheres se apoiavam mutuamente.
A mulher deste tempo (e de tantos outros) era sempre propriedade de alguém, primeiro de seu pai, depois do seu marido, ou do seu dono. Podiam ser afastadas e abandonadas, e se isso acontecesse caiam em grande desgraça porque perdiam protecção. Tal como acontecia às mulheres que ficavam viúvas, ficavam desprotegidas.
As crianças também eram dos membros mais débeis da família, porque a mortalidade infantil era muito elevada, além disso, poucos chegavam à idade juvenil sem ter perdido o pai ou a mãe, tornando-se órfãos.

Numa sociedade tão centrada na família, quando um dos seus membros a abandonava, era algo de muito grave, era perder um vínculo vital e protector.
Entendemos assim como foi grave a atitude de Yeshuah ao desvincular-se do seu núcleo familiar para se tornar um profeta itinerante. Aos seus olhos colocou em perigo, deste modo, a honra da família, e levou vida de vagabundo, anunciando sem autoridade uma mensagem estranha… era ma situação de vergonha, um escândalo para a sua própria família.
Este jeito itinerante de viver poderá ter começado pelo facto do seu ofício, aprendido com o seu pai José, ser o de artesão…
… e artesão significa que trabalhava a madeira e também a pedra, reparava os tectos de ramagens secas e argila das casas que sempre se deterioravam depois das chuvas, fixava as vigas das casas, construía portas e janelas, construía casas e escavava a rocha para fazer algum lagar, reparava os terraços para o cultivo das vinhas, fazia objectos simples e úteis ao dia a dia.
Era um ofício que exigia que Yeshuah percorresse outras povoações em busca de quem necessitasse dos seus serviços de artesão.

Nas cidades, esta gente das pequenas povoações, era chamado em tom de gozo de “gente do campo”, considerados como gente rude e ignorante, e era impossível não os reconhecer pelo modo de falar pois tinham dificuldade em pronunciar os sons guturais.
A sua pronúncia “atraiçoava-os” revelando a sua origem galileia.

1 comentário:

Andante disse...

Ontem como hoje...
... quem não é da cidade grande é provinciano, é atrasado, é inculto. Probezitos!
Que sabem eles da escola da vida?
A vida vive-se, aprende-se, cultiva-se e enriquece-se.
O tempo de cada um, é o melhor tempo quando vivido e aproveitado até às últimas consequências.
Foi o que aconteceu a este Yeshuah que viveu a vida.
Fez as suas traquinices.
Foi colaborante.
Aprendiz.
Operário.
Enfim, foi HOMEM.

Grata pela lição de vida, para que comecemos a convercer-nos que Ele só quis ensinar-nos a magia da vida cheia de confiança no ABBA.

Beijos peregrinos