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O nome dela

(Isto tem andado um bocado parado por aqui... É a vida!... Já agora aproveito para vos desafiar a propor temas que possamos "conversar" por aqui, se quiserem. Entretanto deixo aqui mais um "encontro imaginado". Um abraço a todos!)
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“Um fariseu convidou-o para comer consigo. Entrou em casa do fariseu, e pôs-se à mesa. Ora certa mulher, conhecida naquela cidade como pecadora, ao saber que Ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um frasco de alabastro com perfume. Colocando-se por detrás dele e chorando, começou a banhar-lhe os pés com lágrimas; enxugava-os com os cabelos e beijava-os, ungindo-os com perfume.
Vendo isto, o fariseu que o convidara disse para consigo: «Se este homem fosse profeta, saberia quem é e de que espécie é a mulher que lhe está a tocar, porque é uma pecadora!»
Então, Jesus disse-lhe: «Simão, tenho uma coisa para te dizer.» «Fala, Mestre» - respondeu ele. «Um prestamista tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários e o outro, cinquenta. Não tendo eles com que pagar, perdoou aos dois. Qual deles o amará mais?» Simão respondeu: «Aquele a quem perdoou mais, creio eu.» Jesus disse-lhe: «Julgaste bem.» E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: «Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; ela, porém, banhou-me os pés com as suas lágrimas e enxugou-os com os seus cabelos. Não me deste um ósculo; mas ela, desde que entrou, não deixou de beijar-me os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, e ela ungiu-me os pés com perfume. Por isso, digo-te que lhe são perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas àquele a quem pouco se perdoa pouco ama.» Depois, disse à mulher: «Os teus pecados estão perdoados.»
Começaram, então, os convivas a dizer entre si: «Quem é este que até perdoa os pecados?» E Jesus disse à mulher: «A tua fé te salvou. Vai em paz.»

Lc 7,36-50

Cada vez que sinto o aroma de nardo, lembro-me dela, e do que aconteceu durante aquela refeição. A delicadeza com que quebrou a ponta do frasco entre os dedos e derramou o seu precioso conteúdo, sem deixar escapar uma única gota no chão da minha sala… e derramou-o sobre os pés do nazareno.
Depois daquele dia nunca mais a vi deambular pelas ruas do nosso povoado, nem de rosto abatido.
Conheço alguns que, de dia a ignoravam e até a maltratavam, mas de noite procuravam-na. Pobre mulher… Dizem que perdeu o marido numa dessas epidemias que ninguém sabe como aparecem, depois de uma vida complicada em que pelo peso dos impostos acabaram por perder o único pedaço de terra que possuíam… Depois de já ter sido casada dificilmente algum homem a quererá como esposa, encontrou naquela vida o modo de dar pão aos seus dois filhos, recusava-se a ser escrava de alguém.
O nosso Deus amaldiçoou-a, castigou-a com toda a sorte de desgraças por algum mal que ela ou algum dos seus antepassados fizeram. Deixou de ser mulher… uma pessoa e passou a ser uma espécie de gente porque toda a infelicidade lhe bateu à porta. Tocar nesta espécie de gente é tornar-se uma espécie de gente com ela. Jamais me aproximarei de alguém assim. Sou fariseu, filho de fariseu e os meus filhos seguirão o meu caminho de rectidão.
As maldições de Deus são como doença contagiosa.
Sigo tanto a rectidão que não me misturo com espécies de gente que não é tão recto como eu.

É verdade que não me lembro do nome dela… e o nazareno Yeshuah também não o mencionou, mas tenho a certeza absoluta que lho conhece. Entendi pelos olhares que trocaram, quando ela entrou, que ele a conhece bem. Como se terão conhecido? O que terão falado?
A pureza dos olhares que trocam deixam-me confuso, assim como o jeito desajeitado com que ele permite que ela lhe perfume os pés com óleo perfumado de nardo
Não era suposto ele permitir que ela o tocasse… que ousadia a dela… que raio de ousadia!... Como se atreve a tocar naquele que acreditamos ser talvez algum profeta de Deus, tantas são as multidões que o seguem.
Convidei-o a sentar-se à minha mesa, uma vez que se tornou tão conhecido, tão falado entre o povo… acreditei que poderia honrar a minha casa sentando-se à mesa comigo. Tinha esperança de talvez o motivar a seguir o nosso grupo, tal é a sua capacidade de comunicar… mas todos os meus intentos falharam.
Falharam todas as minhas intenções que levava já preparadas porque não sei quem é este homem. Não sei quem é porque, na verdade, não conheço ninguém com quem ele se associa, não conheço aqueles do lado dos quais ele toma partido… como esta mulher a quem lhe conheço os maus caminhos, mas não lhe conheço o nome.
Os que estão comigo dizem perplexos: «Quem é este que até perdoa os pecados?», mas o nazareno parece que não está “deste lado”… e parece nem ouvir. Está com ela e por isso lhe diz para ir em paz com a certeza de que está salva.
Quem é este homem, também eu pergunto… quem é este homem que dá certeza, a quem quer que seja, de que está salvo?
Quem é este homem?...



Assumiu tanto "aquele" lado que o vi mais tarde, num gesto semelhante, lavar os pés dos seus próprios amigos... como quem deixa um testamento, uma imagem para se gravar no mais íntimo e se procurar viver sempre. E não acabo de lhe entender o significado. Porque se aquela mulher muito pecou, o nazareno parece nada ter feito de condenável para que demonstre assim o reconhecimento de um grande amor, fruto de um grande perdão gratuito.
Quem é este homem?

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2 comentários:

Inês disse...

Espectacular.
Apetece pôr-me de pé e aplaudir para o computador.

É isso... é isso! Quem é este homem?
Sabes o que me deixa mesmo feliz? É saber que estou do "lado de lá", do dele, e não hei-de perceber, mas também não deixo de ficar maravilhada. Não encaixa comigo, mas é maravilhoso.
Ele lava os pés dos amigos. Ele, que é tão grande, põe-se abaixo.


Posso gritar?
Estou FELIIIIIIIIIIIIIIIIIZ! :D

Obrigada, muito obrigada.

Anónimo disse...

O nome dela!
O nome dela é ...Gratidão e Graça!...
Pwnsei que estavas doente...
Um abraço. Glória